Porto de Luís Correia: segundo documento do Governo do Estado, está sendo "ampliado e modernizado"
Talvez você se surpreenda ao tomar conhecimento que “há no Piauí quatro portos”. Vai se espantar ao saber que “o porto de Luís Correia está sendo "ampliado e modernizado”. E ficará completamente boquiaberto ao descobrir que essas afirmações entre aspas constam de um documento oficial do governo do Estado do Piauí.
O documento é o Piauí 2050, um plano que se apresenta como um roteiro futuro do Estado para a transformação da realidade piauiense. Foi desenvolvido de 2013 a 2015, através de contrato com a empresa Diagonal, de São Paulo. Depois de discussões técnicas e eventos regionais e setoriais, o produto total resultou em 2.828 páginas distribuídas em 14 volumes – disponíveis no site da Fundação Cepro.
Somente os dois últimos volumes, que compõem o que chamam de Produto 9 ou produto final, somam 621 páginas, ainda conforme os arquivos disponibilizados pela Cepro. Esses dois últimos textos são amparados pelos demais 12 volumes, que dão base às estratégias futuras para o Piauí.
Ocorre que há problemas sérios no percurso.
O documento é o Piauí 2050, um plano que se apresenta como um roteiro futuro do Estado para a transformação da realidade piauiense. Foi desenvolvido de 2013 a 2015, através de contrato com a empresa Diagonal, de São Paulo. Depois de discussões técnicas e eventos regionais e setoriais, o produto total resultou em 2.828 páginas distribuídas em 14 volumes – disponíveis no site da Fundação Cepro.
Somente os dois últimos volumes, que compõem o que chamam de Produto 9 ou produto final, somam 621 páginas, ainda conforme os arquivos disponibilizados pela Cepro. Esses dois últimos textos são amparados pelos demais 12 volumes, que dão base às estratégias futuras para o Piauí.
Ocorre que há problemas sérios no percurso.
O melhor dos documentos é o que se refere ao diagnóstico – passado e presente do Piauí –, inclusive indicando enorme deficiência de infraestrutura e graves vulnerabilidades ambientais, por exemplo. Mas peca muito quando o discurso assume viés mais político, deixando a pílula muito mais dourada do que de fato é.
Um bom exemplo desse pecado é o chamado Produto 2, de 2013, base para elaboração dos documentos posteriores. Nesse volume, estão as chamadas macrotendências de investimentos e infraestrutura. É onde, na página 40, aponta a existência de quatro portos: Parnaíba (Tatus?), Teresina, Floriano e Luís Correia. Considerar Luís Correia um porto é, sem dúvida, um exagero, que beira ao delírio quando diz que está sendo “ampliado e modernizado”.
Um bom exemplo desse pecado é o chamado Produto 2, de 2013, base para elaboração dos documentos posteriores. Nesse volume, estão as chamadas macrotendências de investimentos e infraestrutura. É onde, na página 40, aponta a existência de quatro portos: Parnaíba (Tatus?), Teresina, Floriano e Luís Correia. Considerar Luís Correia um porto é, sem dúvida, um exagero, que beira ao delírio quando diz que está sendo “ampliado e modernizado”.
No mesmo documento, à página 38, abraça como se fosse de uma concretude indiscutível os investimentos projetados para a infraestrutura, calculando em R$ 5,4 bilhões o aporte a chegar. Destaca que desse valor, 70% é para ferrovia – e coloca numa minúscula nota de rodapé que esse investimento em infraestrutura corresponde a toda Transnordestina, incluindo os trechos do Ceará e Pernambuco. Ou seja: os 70% imediatamente ficam reduzidos a menos de um terço (o correspondente ao Piauí), com o agravante de que é uma expectativa longe de ser concretizada.
Na página 39 do mesmo documento, diz que o Piauí tem 1.587 km de ferrovias. Sabe-se lá de onde tiraram esse número: nem contando toda a futura Transnordestina (com os trechos do Ceará e Pernambuco) chegaríamos a tanto. E informa que “o Piauí vem implantando a Transcerrados, a primeira rodovia sob concessão da inciativa privada”. Levar a inciativa privada a desenvolver a Transcerrados era uma ideia que nunca vingou, a não ser no Piauí 2050.
A ideia de fazer um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social de longo prazo é muito importante, já que uma das falha do Piauí é não ter um planejamento de longo prazo com ações integradas. Mas o trabalho da Diagonal deixa muitas dúvidas. Inclusive porque só planeja o futuro em razão do potencial que está aí, sem avançar substancialmente sobre tendências novas que poderiam ser criadas no Estado em razão do percurso nacional e planetário.
Além disso, a leitura política excessivamente otimista sobre contexto atual e futuro tira muito do rigor técnico. Prevalece um discurso político que é muito bonito, mas que perde força na hora de se transformar em realidade.
Some-se a isso um completo descaso dentro e fora do governo quanto à proposta elaborada pela Diagonal. Nem governo, nem sociedade tem discutido o tema. E essa discussão – para referendar ou ajustar o Piauí 2050 – seria um grande primeiro passo.
A ideia de fazer um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social de longo prazo é muito importante, já que uma das falha do Piauí é não ter um planejamento de longo prazo com ações integradas. Mas o trabalho da Diagonal deixa muitas dúvidas. Inclusive porque só planeja o futuro em razão do potencial que está aí, sem avançar substancialmente sobre tendências novas que poderiam ser criadas no Estado em razão do percurso nacional e planetário.
Além disso, a leitura política excessivamente otimista sobre contexto atual e futuro tira muito do rigor técnico. Prevalece um discurso político que é muito bonito, mas que perde força na hora de se transformar em realidade.
Some-se a isso um completo descaso dentro e fora do governo quanto à proposta elaborada pela Diagonal. Nem governo, nem sociedade tem discutido o tema. E essa discussão – para referendar ou ajustar o Piauí 2050 – seria um grande primeiro passo.
POR: FENELON ROCHA
EDIÇÃO:BERNARDO SILVA