Por:Bernardo Silva
Sou avesso ao óbvio ululante, minha mãe. Por isso hoje não vou dizer palavras melosas que todos dizem. Repetem todos os Dias das Mães. Hoje eu quero dizer da saudade que sinto, do seu colo, da sua palavra, sempre me dando razão, mesmo quando eu estava errado. E eu sempre errei, mãe, com relação a você
Perdoa-me por isso. Perdoa minhas omissões, perdoa as preocupações que lhe dei. Perdoa, mãe, todas as vezes que eu saia de casa, não dizia onde ia e a senhora nem sabia seu iria voltar. E como essa espera doía em você, que sofria calada. E hoje eu sei disso, porque sua ausência me humanizou.
Que vontade de me ajoelhar a seus pés para dizer, volta, minha mãe! Volta para me repreender, para brigar comigo, para dizer que eu estou no caminho certo ou que estou no caminho errado. Quero olha-la, velhinha, doce, carrancuda, mas minha mãe. Minha doce mãe...
E lembrar que um dia eu nasci tão distante daqui, era tão inocente, tão simplório. E a vida me quis aqui, na cidade grande. E para cá me trouxeram. E aqui eu pago quase todos os meus pecados. E aqui já chorei quase todas as lágrimas. Aqui já solucei demais, sozinho, no vazio das ruas, na negritude das noites, olhando às vezes um copo de bebida... e chorando e chorando, feito bezerro desmamado e me esvaziando mais e mais, por não ter mais seu colo, minha querida mãe. E sempre me pergunto: o que faço aqui sem a minha mãe?!~
Ah, meu Deus! Erraste por não ter feito eternas todas as mães. Eternas na terra, porque sei que as mães são eternas no outro plano, onde um dia todos nos encontraremos E só assim me consolo
Confesso que também tenho às vezes vontade de ser novamente um menino. E no meio do meu desespero ficar com você. É muito ruim não ter você. Fiquei mais velho, mas o meu coração, a minha alma, continuam ligados a você, como quando eu era apenas um menino, um adolescente, que não sabia direito do tamanho imensurável de todas as mães.
Me perdoa, mãe, cresci, mas não sei viver sem você. Tenho-a nos meus pensamentos, todos os dias, como o farol a iluminar esta espinhosa estrada que sigo, às vezes cantando, as vezes chorando, às vezes espantado, desesperado por não tê-la do meu lado. E neste dia das mães, nada me resta, a não ser pedir a Deus que nos faça mais perto um do outro. Preciso me fortalecer para seguir minha dura jornada. Por isso, abraça-me, minha mãe. Enxuga essa lágrima que teima em rolar no meu rosto.... te amo, sempre.