Por:Benedito Gomes (*)
20.10.1909 *
10.02.1997 +
Olhando assim você pode pensar: quem é esta pessoa? Faz algum sentido? Tem alguma importância? Aí você medita um pouco e diz em voz baixa, só em seu pensamento: é, vou ler para saber o que foi que houve. Vou então contar para vocês o que aconteceu naquela data, sempre lembrada e sentida até hoje.
No inicio do século XX, no povoado Olaria, município de Brejo – MA morava um jovem caboclo chamado Raimundo Gomes da Silva, cabra bom de enxada, Doutor em carro de boi, especialista em roça. Na mesma época e quase com a mesma idade morava ali no Arraial ou Morro Doce, uma bela moça, camponesa prendada, chamada Ercilia Maria da Conceição.
Como todos os jovens, se conheceram, formaram amizade, conversa vai, conversa vem, veio namoro, noivado e casamento. Como eram católicos seguiram à risca a orientação bíblica: “Crescei e Multiplicai”. Em dezesseis anos de convivência tiveram seis filhos. Vieram quase em série: Raimundo, Antônio, Francisco, Luiz, Benedito e Ana Maria. Nossa casa era cercada por palmeiras de coco babaçu por todos os lados. Ouvi papai dizer várias vezes que diariamente tinha de três a cinco mulheres quebradeiras de coco, trabalhadores na roça, Dona Ercilia comandando a casa com crianças e fazendo comida para todos.
Lembrando que lá pelos anos trinta ou quarenta não havia energia elétrica, não havia água encanada, nem fogão a gás, nem supermercado, nada do que hoje chamamos moderno e que muito facilita o nosso dia a dia. Tudo era feito no braço, e mesmo assim i Sr. Raimundo e Dona Ercilia, com fogão a lenha, um grande forno no quintal onde torravam coco, assavam bolos e às vezes uma leitoa caipira assada inteira, afinal, tinha sempre muita gente pra comer.
O casal sabia ler um pouco, o que era muito para a época. Iam tocando a vida dentro de um padrão razoável, quando no final de 1946 Dona Ercilia adoeceu. Sabem de que? Nunca soubemos, naquele tempo e naquela região a palavra médico só existia no dicionário, pessoalmente ninguém sabia o que era.
Eu tinha menos de cindo anos, não sabia o que estava acontecendo. Anos depois fui informado do sofrimento que minha mãe passou, aliás um duplo sofrer, sofria por estar lutando contra um mal desconhecido cujo tratamento era feito apenas com chás, sem nenhum efeito positivo. E sofria mais por saber que a vida estava fugindo ao seu alcance e teria que deixar na orfandade seis crianças para serem criadas, por mãos estranhas, talvez desconhecidas. O que muitas pessoas previam aconteceu. Dona Ercilia não resistiu as dores que atacavam fisicamente seu corpo e emocionalmente sua alma, vindo a óbito no dia 10.02.1947.
Hoje faz setenta anos que, involuntariamente, a senhora nos deixou, externando aqui nossos sentimentos e emoções é a maneira simples de lembrar este dia tão distante e de sofridas recordações. Dona Ercilia, nós, falo em nome dos filhos, passamos pouco tempo juntos aqui na terra, mas com certeza nos encontraremos na eternidade onde nossa união será por Deus abençoada.
Benedito Gomes
Contador UFPI
10.02.2017
(Obs: Pedimos desculpas pelo atraso na publicação deste texto)