Por: Benedito Gomes(*)
Quem conheceu o Rio Parnaíba ali pelos anos quarenta, cinquenta, até sessenta, deve lembrar de um tráfego intenso de canoas, barcas, rebocadores e vapores, num vai e vem rio acima rio abaixo. O que era produzido até 100 KM, no estado do Maranhão e do Piauí, era transportado para Parnaíba através do rio. O porto de Repartição, em Brejo, era muito movimentado. E como não havia caminhão, pois não havia estradas, o transporte de coco babaçu, cera de carnaúba, couros de boi, peles de carneiro, bodes, jaborandi em folha, farinha, goma, laranja, manga, algodão em pluma e tudo mais, vinham para Parnaíba, diretamente para os armazéns da casa Marc Jacob, Pedro Machado, Morais S/A e Casa Inglesa, de onde depois seriam exportados pelo porto de Tutoia.
Na região de Brejo o transporte era todo feito em carro de boi - de Chapadinha, da Estrela, Anapurus, de Mata Roma e demais povoados, desciam dezenas de carros para Repartição onde estas mercadorias eram embarcadas e transportadas nas barcas dos senhores Raimundo Melancia, Mané Mago; João Francilino, João Laura, Chico Camila, Raimundo Querosene e outros. Quando voltavam levavam peças e peças de tecidos, latas de querosene, centenas de caixas de mercadorias diversas, cujos nomes não lembro mais.
Os rebocadores chegavam puxando duas ou três barcas carregadas de tudo. Os grandes vapores como Brasil, Piauí, Uruçuí e Parnaíba, são os que me lembro, transportavam cargas e passageiros, era o meio de transporte da época entre Parnaíba e o sul do Piauí. Ali entre São Bernardo e Santa Quitéria do Maranhão tem na margem do rio um povoado chamado Pau D’água, onde existia um Posto de Combustível, quer dizer, naquele lugar tinha uma venda de madeira em metros cúbicos. Você comprava o tanto de metros que precisava para o consumo na caldeira do vapor ou do rebocador.
Ah, eu ia falar do Rio Parnaíba e já estava esquecendo. Naquela época o rio era um mundo de água doce, com uma média de 200 a 600 metros de largura e uma profundidade no canal de oito metros. O espelho d’água restante com um a três metros. Hoje o velho monge em alguns trechos chega a cem metros de largura com três a quatro metros de profundidade, o restante é areia, que normalmente chamamos coroas e estão plantadas de feijão e arroz, a chamada lavoura de vazante.
Rio Parnaíba com pouca água
Os últimos a navegarem o rio, comercialmente, foram Abilão, Chico Cea e Chico Euclides. Estive no porte de Repartição, no dia sete de dezembro de 2016, e lá encontrei alguns amigos dos anos 50. Foi um encontro proveitoso, conversamos bastante, andamos pelo leito do Parnaíba quase seco. Foi um dia muito importante, poder rever os meus amigos de infância. Lembramo-nos de coisas que vivemos naquela época. Como vocês sabem, a lembrança é companheira da saudade. Juntei as duas, coloquei em um quadro, pendurei na parede das recordações que, juntas, me ajudaram a escrever este texto.
(*)Benedito Gomes
Contador UFPI
Fonte:Jornal "Tribuna do Litoral"