Certa vez por dever de
profissão tive que acompanhar uma equipe de televisão numa reportagem sobre as
marisqueiras lá pras bandas de Macapá, região de Luiz Correia pra uma banda. Da
equipe que saiu de Parnaíba contando comigo eram umas quatro pessoas, o cinegrafista
Gregório Dias, o repórter Hilder Monção e um assistente de nome Miranda. Fomos
acompanhar e registrar o trabalho de um grupo de mulheres que haviam criado uma
associação e pelo que diziam a coisa estava dando certo.
O grupo de mulheres
seguiu abrindo caminho naquele meio de mundo entre a terra de carnaubeiras e o
mar tendo no meio umas poucas dunas muito brancas e que o vento enchia nossos
olhos de areia. E o pessoal da equipe num carro atrás e bem perto. Até que
chegamos ao local de desembarque. Umas poucas canoas onde mal cabiam cinco
pessoas nos aguardavam. Poucas, mas suficientes pra dentro de pouco tempo
termos todos atingindo o mangue onde haveria a cata dos mariscos.
Posso dizer que o
trabalho de quem cata marisco não é nada elegante ou delicado na frente de
tantas outras atividades por esse mundo. E ainda mais se tratando se feito por
mulheres. Pra começar as coitadas ficam esperando a maré baixar pra depois se
enfiarem naquele lameiro fedido. Uma catinga de peixe podre, vômito de bêbado,
carniça, tudo junto. Coisa de dar engulhos. Aquela lama onde as mulheres ficam
o tempo todo com a bunda pra cima e enfiando as mãos na lama pra irem catando
um a um os mariscos. Depois vão colocando numa vasilha.
E no meio daquele horror
sobre um mangue fedorento aquelas pessoas passam o dia conversando coisas de
casa, lembranças de dias passados, alguma situação de perigo ou de alegria.
Perguntamos como é a distribuição de toda a produção daquela pescaria e elas
responderam que depois de voltar pra cidade e de pesar o marisco recolhido vem
o cozimento e a venda no mercado. Dá pouco dinheiro porque é dividido entre
todas que saíram de casa naquele dia.
E me vem à lembrança
desta minha aventura profissional pra ilustrar o que acaba de acontecer com o agora
ex-deputado Eduardo Cunha. Andou e chafurdou tanto no meio da lama desse mangue
que é a má política, preparando a queda da presidente Dilma, mas esqueceu que
havia de voltar pra casa. Trapaceou o quanto pode. Desafiou Deus, o mundo e a
Justiça. Se meteu naquela fedentina toda. Se sujou e sujou os vizinhos. Cunha
usou e abusou da paciência dos outros.
Se enfiou na lama feito
aquele marisco mais renitente e que deu trabalho pra retirar. Achou que todo
mundo era idiota. Achou que todos eram seus amigos e que estariam com ele
dentro da canoa quando ela voltasse pra terra. Voltou pra terra sujo de lama
até a raiz dos cabelos. Por fim foi cassado. Agora mais uma pra semana: Lula e
mais seis, incluindo sua mulher, acabam de ser denunciados na Operação Lava
Jato. Daqui pra o final do ano ainda tem é coisa.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor