Desde a notícia da gravidez à decoração do quarto do bebê, tudo minuciosamente pensado durante os meses da gestação. Mas há uma coisa em que as mães alagoanas não programam, e temem que possa acontecer, a microcefalia. Neste Dia das Mães, 8 de maio, a reportagem doG1 mostra o desafio de duas mães de bebês com microcefalia.
De acordo com o último levantamento divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e pelo Ministério da Saúde, Alagoas confirmou 59 casos de microcefalia. Outros 82 são investigados e 144 já foram descartados. O levantamento usa como base dados colhidos até o dia 30 de abril.
Família afirma que Sarah está se desenvolvendo
igual a uma criança sem a malformação
(Foto: Jonathan Lins/G1)
Sarah é um dos 59 bebês que nasceram com a malformação. A primeira filha da universitária Mabelly Colatino de Araújo Silvestre, 23 anos, tem hoje cinco meses. A jovem conta que só descobriu que a filha tinha microcefalia quando ela nasceu.
“Realizamos todos os exames e eles mostravam que ela estava totalmente normal. Quando ela nasceu, a médica viu que ela tinha 32,5 cm na [circuferência da] cabeça. O normal, na época, para a criança nascer era 33 cm”, afirma a mãe.
Mabelly confessa que, quando descobriu a situação da filha, ficou sem saber o que fazer. “A médica explicou a situação e pediu para esperar o desenvolvimento dela. Na época, não havia essa repercussão toda na mídia, e sabíamos pouco sobre o caso, mas nunca pensei em desistir dela”.
Os médicos suspeitam que a malformação tenha sido ocasionada por um problema genético, já que a universitária afirma que a sua gestação foi saudável e não teve nenhuma doença.
Sobre o futuro da pequena Sarah, Mabelly espera apenas que ela seja feliz, e já se prepara para o possível preconceito que ela possa vir a sofrer. “Ela foi meu melhor presente, não me atrapalhou em nada. Criança sofre com o preconceito todo dia, com ela não vai ser diferente, mas vamos nos preparando. Aqui em casa todo mundo apoia, sempre pronto para ajudar”.
Ansiosa pelo seu primeiro Dia das Mães, Mabelly afirma que irá passar com a família. “Vamos todos à igreja, para agredecer pela saúde da Sarah, e depois vamos almoçar. A ‘mãezarada’ inteira”.
'Criança sofre com preconceito todo o dia, com ela não vai ser diferente, mas estamos nos preparando', diz a mãe de Sarah (Foto: Jonathan Lins/G1)
Quem também passou pelo susto de descobrir a filha com microcefalia foi Juliana da Silva Lima, de 25 anos. Um pouco mais experiente, Juliana já era mãe de um casal quando engravidou de novo. Foi na ultrassom para saber o sexo do bebê que a microcefalia em Maria Beatriz foi diagnosticada.
“A possibilidade existia, eu tive zika quando tava com dois meses de gestação, os médicos acreditam que a Bia tenha nascido com microcefalia por causa disso. Foi um susto muito grande, tive medo. A gente pensa que isso não vai acontecer com a gente, mas aconteceu”, lembra Juliana.
Após o susto, a jovem tomou a decisão. “Chorei muito no primeiro dia, mas depois decidi correr atrás da felicidade dela, eu tenho que cuidar da minha filha. Sempre tive o apoio muito grande da minha família, e da família do meu marido”.
Juliana diz que estímulo é essêncial no
desenvolvimento da Maria Beatriz
(Foto: Jonathan Lins/G1)
Maria Beatriz nasceu com apenas 25 cm de circunferência na cabeça. Hoje, ela já percebe as dificuldades na locomoção da filha, mas garante que o amor ajuda bastante no desenvolvimento dela.
“Quando ela nasceu, considerávamos normal, mas a articulação está enrijecendo. Os médicos sempre mandam a gente estimular, e isso ajuda muito”, disse a jovem.
Em relação ao futuro e ao preconceito, Juliana diz esperar que ela seja feliz. "Enquanto Deus me permitir, eu vou cuidar dela. As pessoas olham para mim às vezes com ignorância ou com uma cara de pena. Minha filha não é doente”.
Ciranda do Cuidado
Para ajudar na maternidade de crianças com microcefalia, a Secretaria de Saúde de Maceió decidiu criar o “Ciranda do Cuidado”. O grupo tem como objetivo a troca de experiências entre as famílias e dicas que auxiliam no desenvolvimento dos bebês.
O projeto atende a crianças que nasceram na capital com microcefalia desde novembro de 2015. Além das redes sociais, uma reunião é realizada às primeiras terças-feiras do mês, no auditório da Secretaria, localizada no Centro.
Ao todo, 18 famílias participam do grupo de apoio. Além da Secretaria de Saúde, a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) também participa do Ciranda do Cuidado. A cada reunião, os órgãos levam um profissional de uma área da saúde para dar dicas às mamães, uma maneira de fazer com que a experiência da maternidade não se perca nas dificuldades do desafio.
Juliana da Silva Lima descobriu que filha podia ter microcefalia através de ultrassom (Foto: Jonathan Lins/G1)FONTE: GLOBO.COM