Corria o ano de 1972, pleno período da ditadura militar com o general Garrastazu Médici, quando eu e alguns amigos estudantes do segundo ano do curso de mecânica de manutenção no Senai, ali na Capitão Claro, fomos representar nossa escola na recepção ao Fogo da Pátria, evento promovido Governo da Revolução pra manter viva a estima dos brasileiros, principalmente sua juventude, em relação aos feitos e conquistas. Era a época do Brasil, Ame-o ou Deixe-o e do Ninguém Segura este País.
O Brasil acabava de conquistar dois anos antes a Copa do Mundo de Futebol no México e ainda havia cheiro de pólvora dos fogos Caramuru no ar. Havia também muita euforia com relação à abertura da chamada rodovia Tansamazônica e que inclusive passava pelo Piauí, assim também a construção da ponte Rio-Niterói, considerada um marco da engenharia brasileira. Era o tempo do Milagre Brasileiro, tão bem defendido nos livros de Murilo Melo Filho. Era o tempo de Mário David Andreazza, João Paulo dos Reis Velloso, Delfim Neto e Costa Cavalcante.
O certo é que Parnaíba entrou no mapa das cidades por onde haveria de passar o tal Fogo da Pátria. As escolas tiveram a obrigação de escolher entre seus estudantes aqueles atletas pra carregarem a tocha. Naquele tempo havia muita gente metida a jogador de basquete, vôlei e futebol e havia educação física nas escolas públicas. Havia até um hino que a dona Plautila Lopes obrigava a gente a cantar no Estadual Lima Rebelo enaltecendo o sesquicentenário da independência do Brasil. Sesquicentenário, e vamos mais e mais... na festa do amor e da Paz!...
Eu lembro que no tal dia da chegada do Fogo da Pátria foi um acontecimento e tanto aqui nessa Parnaíba e aonde a gente ainda chegava de Marimbá porque o trem da linha Teresina-Parnaíba acabara de entrar no armário das coisas esquecidas. Veio gente de tudo quanto foi buraco desses povoados da redondeza e gente com galão no ombro pra organizar a tal festa do Governo da Integração Nacional. As escolas obrigaram seus alunos a ir pro Centro Cívico, aquela invenção do doutor Lauro Correia, ali na praça de Santo Antonio, ficar de cara pra cima por uma hora olhando uma lamparina acesa naquele terror de sol.
Presidente Garrastazu Mécidi |
E nós estudantes do Senai, uma escola de formação profissional, dirigida pelo velho José Mário Aranha Pinheiro, fomos fazer papel de bestas naquele arrumação em pleno meio-dia. As professoras dando cagaço em quem fosse besta de dar um piu que fosse. Agora me vem esta lembrança de mais de quarenta anos, quando Parnaíba está se preparando pra receber a tocha olímpica. Já existe uma comissão preparada e tudo pela prefeitura pra o tal evento e as pessoas que vão carregar aquela lamparina em forma de casquinha de sorvete pelas avenidas de Parnaíba já foram escolhidas a dedo.
Faz um tempo que andaram por aqui uns deputados prometendo uma tal Vila Olímpica. E na época, que não faz muito tempo assim, veio até ministro lançar a pedra fundamental. E lá foi todo mundo, ministro, deputados federais, estaduais, prefeito, governador. Todo mundo soltando rojão e foguete Caramuru e já dando a coisa como pronta. Voltando pra realidade, a tal tocha dos Jogos Olímpicos de 2016 vai passar por Parnaíba. Pela lógica a vila prometida era pra ser o lugar onde essa tocha seria cultuada e enaltecidos os grandes feitos do governo da Pátria Educadora da presidente Dilma Rousseff. Mas a história todo mundo sabe no que deu.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor