Não existe bicho mais
medroso do que menino. Digo isso pra lembrar do meu tempo de estudante em grupo
escolar, o hoje velho e mau cuidado Grupo Escolar Epaminondas Castelo Branco
ali na rua James Clark, entre os bairros de Fátima e São Benedito. Foi onde
estudei todo o meu curso primário antes de ir depois de fazer o exame de
admissão pra o Colégio Estadual Lima Rebelo.
Naquele tempo não havia
esse negócio de recuperação. O camarada estivesse reprovado, reprovado estava e
haveria de repetir o ano. E até usando uma expressão daquela época, grosseira
aos padrões de hoje, se você não fosse tirando boas notas logo desde o início
do ano o pau era certo. E era pau na escola e pau em casa. Entre nós, meninos
daquele hoje distante ano de 1965 era um medo muito grande a ameaça de ser
reprovado. Talvez nem tanto pela reprovação em si, mas a humilhação, a vergonha
de ficar pra trás.
Nossas professoras, as
professoras daquele e nosso tempo estão longe de imaginar os recursos que
vieram depois pra pedagogia facilitando talvez o desempenho e dando autonomia e
mais agilidade no aprendizado. Até porque hoje a sala de aula é um rico
laboratório digital em que a presença do professor pode até ser dispensada,
segundo alguns especialistas.
Hoje as coisas são
muito mais fáceis. Poucos são os obstáculos. Os recursos externos são
plenamente disponíveis. Mas não é de
saudades de nossa escola que quero falar. É que nesta terça-feira me veio a
informação de que a economia brasileira pelo terceiro trimestre consecutivo se
repetiu e não cresceu. O Produto Interno Bruto, o PIB, que é a soma de todas as
riquezas produzidas em bem e serviços, fez igual relho velho em casa de
vaqueiro. De tanto bater no lombo do burro e depois ficar pendurado, encolheu. Encarquilhou.
Ficou em 1,7% no
trimestre e no ano, que é daqui a pouco, 3,2%. E isso me faz lembrar alguns
colegas daquele distante ano de 1965, no Grupo Escolar Epaminondas Castelo
Branco. Colegas que passavam o ano inteiro brincando, intimando uns com os
outros em sala de aula, jogando bola, peteca e pião. Brigando e se dando de
valentes. Outros faziam pior, gazeavam aula. Iam roubar mangas nos quintais das
casas vizinhas e se esqueciam dos cadernos. Esqueciam as provas. Esqueciam que
o tempo estava passando.
Eram aqueles estudantes
que não criavam reservas. Não acumulavam boas notas. Viviam sempre na e pra
brincadeira. Achavam que a vida seria sempre aquela de crianças peraltas. Hoje estão por aí. Ás vezes encontro muitos
deles. Já não passa mais na lembrança aquele viço da infância onde tudo parece
que nunca vai acabar. Estão velhos e de cabelos brancos. Pouco eles fizeram na
vida. Foi o que deu pra fazer com o que acumularam.
Assim está esta equipe
econômica e este governo do PT. Agora quer fazer igual antigos colegas e amigos
de grupo escolar. Recuperar dentro de poucos dias aquilo que não souberam fazer
ou as traquinices não deixaram. Esta equipe da presidente Dilma Rousseff está
agora fazendo de um tudo pra ver se ainda dá tempo se salvar e não levar pau e
ser reprovada. Mas eu acredito que a uma altura dessas é melhor largar de mão.
O ano está perdido. Quem já perdeu três perde quatro. Dentro de poucos dias, mais pertinho do
Natal, o governo vai entrar na sua casa e lhe entregar um boletim cheio de
notas vermelhas. Vamos repetir o ano porque este já era.
Por Pádua Marques
Jornalista e escritor