RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO - Caminhoneiros começaram na madrugada
de hoje uma greve que deve parar as rodovias de todo o país, segundo seus
organizadores, que esperam paralisações em pelo menos 20 estados. A greve está
sendo organizada pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), movimento que
surgiu na internet e que não tem personalidade jurídica nem o apoio dos
sindicatos dos caminhoneiros. O Palácio do Planalto passou o fim de semana
monitorando as redes sociais para tentar medir o impacto da paralisação sobre
as rodovias brasileiras. A avaliação foi que o movimento não será
significativo, embora possa causar transtornos em locais isolados. O maior
temor é que haja bloqueios em estradas, o que pode provocar desabastecimento.
— Existe uma preocupação, mas a tendência é que o movimento não
seja forte — disse um interlocutor do Planalto.
MOVIMENTO POLÍTICO
Esta é a segunda greve de caminhoneiros no ano: a primeira ocorreu
em fevereiro, sendo que as interdições em rodovias prosseguiram até abril. Esta
nova paralisação começou a ser convocada pelo CNT nas redes sociais e por meio
do aplicativo de celular WhatsApp em outubro. O grupo é liderado por Ivar
Schmidt, de Mossoró, Rio Grande do Norte. A principal reivindicação é a
renúncia da presidente Dilma Rousseff.
— A paralisação será por tempo indeterminado, até que haja a
renúncia da presidente Dilma. Temos adesões em vários lugares do país, e será uma
paralisação grande. A população e o governo vão se surpreender — afirmou
Schmidt ontem, por telefone.
Segundo o governo, o teor das mensagens divulgadas pelo CNT nas
redes sociais deixa claro que a nova greve é um movimento político que tem como
objetivo principal enfraquecer a presidente Dilma. Tanto que um dos objetivos
declarados da greve é pressionar pelo impeachment. A pauta de reivindicações
inclui ainda a redução do preço do diesel e do frete mínimo, a anulação de
multas aplicadas em manifestações anteriores e a liberação de crédito com juros
subsidiados.
Na semana passada, a União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam)
chegou a divulgar nota afirmando que não apoia a paralisação e defendendo o
diálogo para tratar dos interesses da categoria. “O posicionamento aqui
expressado vai ao encontro do espírito de pacificação de conflitos, por meio de
negociações, que sempre norteou o encaminhamento de questões de tal
envergadura, com vistas ao encontro de solução aos problemas inerentes à
categoria.”
Já a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA)
informou considerar imoral e repudiar “qualquer mobilização que se utilize da
boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país e pressionar o
governo em prol de interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com
os problemas da categoria”.
POLÍCIA FEDERAL EM ALERTA
O Planalto avalia que o perfil do movimento de agora é bem
diferente do de fevereiro, quando houve ação coordenada pelos sindicatos dos
caminhoneiros e rodovias foram bloqueadas. Na ocasião, o governo abriu um canal
de negociação com os sindicatos para tratar das demandas. Esse processo está em
andamento.
Schmidt afirma que não é possível afirmar qual será a dimensão da
paralisação que começa hoje, mas informa que existem 64 grupos de WhatsApp, com
6.400 participantes, que vêm convocando os caminhomeiros para a greve.
A direção da Polícia Rodoviária Federal disparou sinal de alerta
para eventuais protestos de caminhoneiros no país a partir de hoje. Mas,
segundo policiais ouvidos pelo GLOBO, até o momento não há comboios nem
indicativo de grandes manifestações da categoria nas rodovias federais. A
polícia registrou apenas duas concentrações de caminhoneiros, uma em Vacaria,
no Rio Grande do Sul, e outra em Campos Novos, Santa Catarina. A Polícia
Rodoviária Estadual de São Paulo informou que oficialmente não tem nada
confirmado, porém o comando tem um plano de ação caso ocorra a paralisação.
Segundo policiais, os problemas estão relacionados a questões
entre caminhoneiros e empresas e não a uma disputa entre a categoria e o
governo. As manifestações não teriam relação direta com os protestos anunciados
por sindicalistas nos últimos dias.
Com 36 mil seguidores, a página do CNT teve 12 posts sobre a greve
apenas ontem, até as 21h. A cobertura da paralisação por veículos de imprensa
estrangeira é destaque: “O mundo já sabe da nossa paralisação, e você?”, afirma
um dos posts. Em dias anteriores, há vídeos do próprio Schmidt convocando para
a paralisação. No sábado, em post intitulado “Mensagem ao povo brasileiro”, ele
convida a população para se juntar aos caminhoneiros nos pontos de paralisação
e “expor sua indignação com o que está acontecendo no país”. Schmidt sugere dar
“um passo adiante e deixar para trás essa história de pilantragem e
falcatruas”.
Schmidt nega que o movimento seja ligado a qualquer partido. Ele reconhece, no
entanto, que foi procurado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que ofereceu ajuda
para negociar com o governo e evitar a paralisação. Na última quinta-feira, o
senador levou o tema ao plenário do Senado, segundo informações da Rádio
Senado, e demonstrou apoio aos caminhoneiros.
PETROBRAS REÚNE SINDICATOS
Depois de oito dias de greve dos funcionários, a Petrobras se
reúne hoje com a categoria para tentar negociar o fim da paralisação. Ontem, a
empresa confirmou as informações divulgadas na sexta-feira, de que foram
agendadas reuniões com as entidades sindicais. A Federação Única dos Petroleiros
(FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) são as principais.
Em nota em seu site, a FUP afirmou que esta “já é considerada a
mais importante e emblemática dos últimos 20 anos”. Pelo balanço de ontem, o
número de unidades marítimas paralisadas na Bacia de Campos era de 49, ante 46
na sexta-feira. A greve também atinge seis plataformas no Ceará, três
plataformas no Espírito Santo e os campos de produção terrestre em Bahia, Rio
Grande do Norte e Espírito Santo.
Fonte: O Globo.com