No dia 14 de agosto de
1844, a vila de São João da Parnaíba foi elevada a categoria de cidade pela lei
nº 166 promulgada pelo então governador José Idelfonso de Souza Ramos. Nessa
semana, portanto, Parnaíba completa 171 de emancipação e é cantada em verso e
prosa como a cidade que mais cresce no Brasil! Graças à ação competente das
administrações que cuidaram do erário público nestes últimos 11 anos. Sem eles
a Parnaíba não seria a mesma!!!
Porém, o argumento não
resiste à análise da realidade objetiva. A cidade vive uma falsa sensação de
desenvolvimento. A não ser se considerada apenas o eixo das Avenidas São
Sebastião e Pinheiro Machado o que parece ser a opção cuidada, aos olhos da
administração municipal. Olhando os bairros mais afastados da área central
vamos ver o descaso em intensidade e abrangência que assusta a própria ficção.
Vivenciamos um “apartheid” social,
uma segregação comum aos tempos modernos e aos centros urbanos que põe em guetos
crianças, jovens e idosos largados à própria sorte, “invisíveis” ao poder público municipal, onde os direitos mais
elementares destes segmentos da população são cerceados.
Saindo do referenciado
eixo nobre se tem uma ideia do descaso e de quão mesquinha é a forma de pensar
a cidade. Parnaíba ressente-se de um plano de desenvolvimento estratégico. A
estratégia empreendida não vai além da politicagem. Está em curso a busca
desenfreada por apoio político efetivado pela troca de cargos comissionados e
outras quinquilharias. Nem a crise que já põe em risco o pagamento de
fornecedores e servidores é capaz de levar a administração a uma mudança de
postura gerencial.
Entre o “castelo da Itaúna” e a cidade da
Parnaíba há um diálogo de surdos e um mar de incompetência. Ninguém consegue
responder as demandas, sequer ouvir o grito dos desfavorecidos. A manutenção de
uma estrutura exagerada de secretarias e a desenfreada farra de nomeações dá o
tom da marca de uma administração que faz uso das armas do passado que visa, em
última instância, a reeleição. Por isso se diz ser esta uma gestão divorciada
dos interesses coletivos. A hora da verdade fiscal está chegando, o déficit
nominal (o que se arrecada e o que se gasta) está no limite. E não há acenos
para ajustes.
Mas é preciso festejar!
A programação festiva em alusão ao aniversário da Parnaíba não contempla, mais
uma vez, nenhuma obra estruturante e de largo alcance social executada com
recursos próprios do município. E olhe que o generoso orçamento anual de cerca
de R$ 320 milhões vai chegar neste terceiro ano de gestão à fabulosa cifra de 1
bilhão de reais. O que fizeram com tanto dinheiro?!
A programação oficial
consta da inauguração de duas Unidades Básicas de Saúde, importantes para as
populações dos bairros São Vicente de Paula e Fátima, construídas com recursos
federais. Insere-se ainda o Complexo da Polícia Civil
e o Espaço de Incubação Acadêmica no Pólo Tecnológico de Parnaíba.
Também
haverá um desfile das autoridades por ruas onde se faz a recuperação poliédrica
e asfáltica, obra da administração estadual. Pois é, nem mesmo a carona dada
pela União e pelo Estado está bem aproveitada. As obras inauguradas, quase não
foram concluídas. Delas com atraso de mais de um ano do prazo de entrega à
população. E o que dizer das tantas paralisadas e sem nenhum tipo de
justificativa. Qual é mesmo a marca deste governo? Governar
é um desafio ou um desatino?
O que está patente é uma
mentalidade tacanha com ações administrativas igualmente menores que valorizam
a fofoca e a perseguição rasteira daqueles que não leem na cartilha do governo.
Servidores são chamados a toda hora ao esquadrão para jurar fidelidade. Coerção
e covardia. Pobreza de espírito se mistura à incapacidade de manter a
hombridade da impessoalidade que a liturgia do cargo exige.
Isso agravado em razão
de um
padrão de tolerância que leva uma grande parte da sociedade à submissão,
dependência e acomodação. Soma-se ainda a inesperada virtude da ignorância onde
a propaganda falseia e distorce a realidade, transformando atos obrigatórios em
favores aos desprotegidos.
Sob pretextos nobres se
promove o mal!
Neste glorioso 14 de
agosto deveríamos estar celebrando a nossa efetiva emancipação. O seu conceito deriva do latim emancipare,
relacionando-se ao processo, individual e coletivo, de considerar pessoas ou
grupos independentes e representa o processo histórico, ideológico, educativo e
formativo de emancipar indivíduos, grupos sociais e países da tutela política,
econômica, cultural ou ideológica.
Assim, emancipar-se só é possível, no contexto de
sociedades democráticas, por exigir um exercício anterior de noções como
liberdade, igualdade, autonomia e desalienação, pois para exercer a
emancipação, é necessário viver em sociedade, usufruindo direitos civis,
políticos e sociais, nos âmbitos individual e coletivo, o que se desdobra em
questões morais e éticas. Estamos emancipados?
Concluo parafraseando
Marx: a administração rasgou o véu de emoção e de sentimentalidade das relações
sociais e reduziu-as a mera relação politiqueira.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor,
cidadão e contribuinte parnaibano.