Vendo pela televisão
aquele monte de gente numa quadra de esportes lá no João XXII na sexta-feira
passada aguardando o sorteio das casas do programa Minha Casa, Minha Vida,
fiquei pensando em quantos que estavam ali naquele aperreio desde o início da
manhã realmente precisavam de uma casa e quantos estavam dando uma de espertos.
Porque por aqui quando se fala em coisa de graça ou quase de graça, todo mundo
dá o pé na carreira, seja lá pra o que for, e principalmente quando é coisa
dada pelo governo. Eram milhares de pessoas que haviam se cadastrado no
programa e agora aguardavam se coçando não vendo a hora de terem seus nomes
divulgados.
O evento foi muito
divulgado em todos os meios de comunicação de Parnaíba, portanto era um baita
dum acontecimento. Coisa de fazer tirar velho e menino do fundo da rede e sair
bem cedo de casa. Dias antes a Polícia Federal havia prometido investigações
sobre denúncia de que mutuários contemplados pelo programa estariam vendendo ou
alugando imóveis de outra etapa do programa, tanto em Parnaíba quanto em Luiz
Correia. O certo é que a denúncia acabou chegando à Câmara Municipal pelo
vereador Carlson Pessoa, que pediu e conseguiu a realização de uma audiência
pública.
No tal sorteio
eletrônico da semana passada, com direito a aparecer na internet, eram nada
menos que 3.846 unidades entre casas e apartamentos. E aí foi aquele monte de
gente saído de tudo quanto foi lugar esperando a vez de ter seu nome divulgado.
Pois muito bem. E cá comigo fiquei a lembrar sobre a esperteza. E mais ainda me
transportei pra outro episódio ocorrido faz meses aqui no Nordeste, salvo
engano no Recife, quando a presidente Dilma Roussef veio entregar umas máquinas
pesadas, dessas de trabalhos em estradas, pra algumas prefeituras.
E fiquei imaginando
quanto tempo estas máquinas, cuja finalidade, segundo a presidente, é o de
serem utilizadas pelas prefeituras na abertura e manutenção de estradas,
escavações de pequenos açudes e outras coisinhas mais, vão realmente cumprir estas
finalidades. Seis, oito ou dez meses? Um ou dois anos? Ninguém sabe. Certeza
mais que certa mesmo que se sabe é que no menor descuido essas máquinas estarão
servindo a interesses particulares em propriedades de políticos, sejam eles
deputados federais, estaduais, vereadores e os próprios prefeitos. Me conteste
quem for capaz que eu ainda dou um quilo de doce.
Porque ninguém tira de
mim esta certeza, que eu acredito seja a mesma certeza de milhares de pessoas
que já estão cansadas dessa e de outras molecagens. O destino dessas máquinas é
a fazenda de muitos políticos. E sabe como elas irão parar lá? Basta que um
funcionário de prefeitura, corrupto, bandido, moleque, egoísta, diga ao chefe
que a tal máquina quebrou e não tem condições de conserto pra que dentro de
pouco tempo, quando a poeira baixar, ela apareça numa fazenda dessas ou até
mesmo alugada noutra cidade menor. E certamente depois de uma negociata entre
prefeitos, vereadores e os maus empresários.
A mesma coisa vai
acontecer com estas casas do programa Minha Casa, Minha Vida, aqui em Parnaíba.
Muita, mas muita gente que estava ali naquela manhã de sexta-feira não tem
necessidade de estar ali. Muitos tem casa boa, bem montada e bem localizada,
mas estavam ali na fila de espera dando uma de coitadinhos. Muitos tem filhos
bem educados, casa com um tudo do bom e do melhor na praia e uma boa
aposentadoria, mas estavam ali torcendo pra serem contemplados a receberem uma
casa do governo pra depois repassarem pra uma filha mãe solteira ou um filho
vagabundo.
Certamente que muitos
desses coitadinhos foram contemplados. Dentro de mais um tempo estas casas
estarão noutras mãos pela informalidade. E muitos outros que realmente precisam
de um teto ficaram esperando. Outras casas certamente serão negociadas por uma
motocicleta, um carro, outra casa ou apartamento de menor valor, um ponto
comercial no centro da cidade ou no corredor da Pinheiro Machado ou da
Caramuru. E dentro de mais alguns anos ninguém se lembra mais de nada, nem
Caixa Econômica nem prefeitura. Porque, pra encurtar caminho e conversa, na
vida o que vale é ser esperto.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor