A situação irregular de famílias beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha vida com imóveis no residencial Colinas da Alvorada, em Parnaíba, foram destaque em toda imprensa do Piauí após a repercussão do caso no180graus. Uma audiência na última quarta-feira (02/10) ocorrido na Câmara após proposição do vereador Carlson Pessoa (PSB) apresentou denúncias sobre a venda de imóveis pelo Facebook e até a troca por veículos. E nossa reportagem foi conhecer de perto a realidade do lugar, e pudemos entender o motivo pelo qual muitas famílias acabam querendo se desfazer da moradia.
Ao Governo Federal compete o financiamento da construção da casa. A Caixa Econômica Federal financia as moradias, a preços mais baixos para famílias de baixa renda. E a prefeitura do município fica responsável por cadastrar as famílias, realizar o sorteio das casas e ainda por urbanizar a área onde será feito o residencial. Mas esse último quesito não vem sendo cumprido pela prefeitura de Parnaíba.
Seu Francisco das Chagas foi um dos primeiros a chegar no residencial, e lamenta a falta de quase tudo no lugar. "Não temos posto de saúde, escolas, nossa coleta de lixo é precária, falta água, creche para as crianças, boa iluminação nas ruas, segurança. Para você vê dona, aqui falta praticamente tudo. Aqui parece que nem tem prefeitura. Na campanha o prefeito veio aqui disse que ia mudar nossa realidade, mas até agora não aconteceu nada de bom para nós. Por isso que muita gente ganha as casas aqui e vai embora", desabafa a nossa reportagem.
Ele mesmo confessa que já pensou em vender a casa, mas lamenta não ter para onde ir. "Eu já pensei em vender essa casa muitas vezes. Tem muita gente que não aguentou viver nesse lugar abandonado e vendeu, ou foi embora. Como a pessoa vai viver aqui se passa até dois dias sem água. A Dilma deu a casa, mas a prefeitura não faz a parte dela", afirma.
O morador aponta para a casa do vizinho, que já tem o terceiro dono. "Esse meu vizinho aqui comprou a casa por R$ 9 mil. O primeiro dono que ganhou a casa trocou por um motor velho, e assim é a situação de muita gente por aqui", afirma, comprovando as inúmeras denúncias sobre a comercialização das casas do programa do Governo Federal, proibido pelo contrato assinado entre o beneficiário e a Caixa Econômica Federal.
Algumas casas ganham muro alto, cerca elétrica e calçadas arborizadas
Além de vender ou alugar a casa, é proibido ainda modificar a estritura do imóvel, bem como usar de outra forma, como instalação de comércios. Mas é o que mais pode ser visto. Pessoas que transformam as casas em bares, salões de beleza, etc. Outros, demonstram um melhor poder aquisitivo, e fazem muros, calçadas e até instalam cerca eletrônica na residência, que tem como propósito servir a uma família de baixa renda.
Muitas ruas, mesmo com pavimentação, estão completamente sujas pelo lixo, muitas vezes jogado pelos próprios moradores, que tentam dar destino aos resíduos quando há atraso na coleta. Falta capina, recolhimento até de restos de material de construção, paradas adequadas. "Aqui não tem ônibus, é só uma van pequena, que não cabe ninguém, e ainda tem de passar pela buraqueira das ruas. Parada de ônibus é só uma placa no meio do sol quente", afirma Francisco. Sobre a segurança, ele comenta. "Aqui estão roubando as mulheres de dia e de noite, não temos nenhum posto policial aqui".
E seu Francisco avisa: "Eles esqueceram a gente aqui, na época da campanha fizeram todas as promessas, vinham todos os dias, mas hoje nem pisam mais aqui. Quero é ver quem é o vereador ou o prefeito que vai vir aqui no próximo ano, que vai é tomar balde de mijo na cara [sic]", desabara o morador.
(REPÓRTERES: Apoliana Oliveira e Fábio Carvalho)