Já se foram 37 anos desde que as obras do porto de Luis Correia iniciaram. Mas ficou nisso. O local que seria de grande valia para o agronegócio no estado, e outras atividades econômicas, ainda permanece jogado às traças e à maresia, que vem corroendo aos poucos toda estrutura, e hoje serve apenas como "ponto de encontro" para alguns pequenos pescadores de Luis Correia.
O 180graus teve fácil acesso ao canteiro de obras abandonado. O descaso é tanto que não há nenhuma segurança no local, e apenas placas indicam que a entrada é permitida apenas para pessoal autorizado. Não é bem o que acontece na realidade, e até mesmo muitos moradores se arriscam por entre as pedras do molhe, onde o mar quebra com violência. De carro já não é mais possível passar, por conta da areia que avança pela parte inicial da estrutura.
Mesmo com as promessas do governo que ainda este ano de 2013 já teriam navios atracando, a única embarcação vista no porto foi o barquinho "Titan", pertencente a um dos pescadores, que com a cabeça coberta, aproveitava as tranquilas águas represadas pelo quebra-mar. Segundo as pessoas que frequentam o lugar, há muito tempo não aparece ninguém por lá.
Barcos de pescadores são os únicos a serem vistos no local onde deveria atracar navios e outras grandes embarcações
Caminhando por entre o maquinário e peças abandonadas, uma peça valiosa, que já pode ser considerada perdida pela ação do tempo e do mar. O Guindaste Northwest, avaliado em pouco mais de R$ 400 mil, está com sua estrutura quase que completamente comprometida, e mesmo com o alto valor, foi abandonado à mercê da natureza.
Guindaste que levanta até 60 toneladas foi destruído pela ação do tempo e do mar
Em julho, os bens dos ex-secretários estaduais de transporte e engenheiros ligados à obra do Porto de Luís Correia foram bloqueados depois que o Ministério Público Federal identificou o possível desvio de pelo menos R$ 12 milhões, no período entre 2007 e 2010. O MPF apontou ainda falhas como ausência de estudos preliminares para a execução, ausência de licenciamento ambiental expedido pelo órgão competente, além da falta de estudo de viabilidade técnica do projeto.
Pescadores se reúnem no meio da tarde, no local onde ficava o canteiro de obras
E qualquer leigo identificaria que o projeto não foi bem desenvolvido. De longe, é possível ver a base que sustenta a estrutura já começa a se desfazer. O concreto já está quase todo saindo, e a água já atinge os ferros, que rapidamente são corroídos pela água salgada do mar. Até mesmo os postes, que faziam a ligação elétrica para as obras, já caíram todos. E se este projeto tivesse seguido adiante? Esta estrutura aguentaria?
Imagem retrata o abandono daquele que seria o primeiro, e talvez o único porto do Piauí
SOBRE A HISTÓRIA DE FALHAS DO PORTO
Já foram mais de R$ 390 milhões jogados fora. Em 2010, dinheiro foi gasto para recuperar parte da estrutura que já estava feita, mas se perdeu com o tempo. Toda esta história começou ainda na década de 60. Bem atrasado, já que o porto de Santos, um dos maiores do país, já havia sido inaugurado em 1892, quase 50 anos antes de se pensar em ter um porto no Piauí.
Já foram mais de R$ 390 milhões jogados fora. Em 2010, dinheiro foi gasto para recuperar parte da estrutura que já estava feita, mas se perdeu com o tempo. Toda esta história começou ainda na década de 60. Bem atrasado, já que o porto de Santos, um dos maiores do país, já havia sido inaugurado em 1892, quase 50 anos antes de se pensar em ter um porto no Piauí.
Placa indica que entrada é proibida, mas qualquer um tem acesso ao lugar, e aos riscos que oferece
As obras só começaram de fato em 1976 e dez anos depois, teve de ser paralisada pela primeira vez, por falta de recursos. Os trabalhos foram retomados em 2008, e três anos depois acabou parando de novo, depois que a Secretaria Estadual de Transportes rescindiu o contrato com o consórcio Staff de Construções e Dragagem Ltda./Paulo Brígido Engenharia, responsável pela construção, e que teria expirado os prazos aplicados, implicando na quebra de contrato, o que é negado pela empresa.
E foi em 2011, que iniciaram as investigações da Polícia Federal por suspeita de superfaturamento, falhas no edital, pagamentos indevidos e outras falhas. Foi constatada ainda a ausência de licença ambiental para a execução da obra.
VEJA O RETRATO DO ABANDONO NO 'PROJETO DE PORTO'
REPÓRTERES: Apoliana Oliveira e Fábio Carvalho - Direto de Luis Correia
Publicado Por: Apoliana Oliveira