Por
Fernando Gomes (*)
Este último final de semana tomei a
decisão de me desfiliar do PCdoB e ingressar no PMDB. Não pensei que a
repercussão fosse ganhar tantas páginas nos jornais e ocupar os principais
blogs da cidade. Muitos elogiaram a mudança. Outros criticaram duramente. É a
vida! Tenho maturidade para absorver tudo isso com a mais absoluta
naturalidade. Pois, só quem tem a coragem de tomar decisões ditas “arriscadas”
pode construir e assumir posições que lhe permita ser feliz dentro de uma
perspectiva racional, negando a opção da maioria que fica à mercê do comodismo
ou da condição de conforto que atende apenas ao interesse mesquinho e
individual.
Tomei a decisão de escrever sobre isso
porque alguns “jornalistas”, imbuídos da mais absoluta nitidez, despido de
paixões e até mesmo de interesses outros tentam atribuir a mudança a uma
atitude que tenta macular minha biografia política. Ora, manchada ela já ficou
quando não consegui empreender o projeto ao qual me dediquei e posso assegurar
que não foi por falta de desejo, nem esforço pessoais. Esta tentativa foi
bloqueada por interesses de um sistema que mantêm os fracos e pessimistas
reféns do interesse do grupo dominante no partido. Saí com a convicção de que
permanecer para mostrar fidelidade a um estatuto que não é cumprido, é muito
pior!
Reitero que a minha decisão
foi tomada ouvindo alguns amigos. Mudar de
partido não é uma alternativa saudável, porém, conhecendo os arranjos da
organização política e não me identificando com essas práticas, vejo que é
melhor sair. Se mudar de partido é ruim, creio ser pior permanecer em um
partido em que não se tem identificação com aquilo que acredito e
defendo. Não me conformaria em ficar preso a amarras de coisas que não comungo.
“O
PMDB é reacionário”,
disseram. O que falar de partidos que se dizem revolucionários, mas que mantêm
práticas políticas condenáveis para chegar ao poder e nele permanecer a
qualquer custo? Avizinha-se uma eleição e esse debate precisa ganhar os
contornos de um mundo real. A utopia se perdeu num tempo em que o guardião da
moralidade e da ética dissipou-se como um gás volátil.
Quem fala hoje? A mando de quem? Qual a
sua contribuição para a nossa sociedade, além da subserviência aos seus
senhores? O discurso usado para o achaque vem da velha estratégia de dominação
que tenta manter sob controle a vida das pessoas, eles querem decidir o que
deve ter a maioria (sub-emprego, pouca escola, saúde precária, dependência
plena) e até os nossos próprios sonhos. Principalmente daqueles que representa
ameaça ao confortável poder exercido.
Chico Buarque disse certa
vez: “As pessoas têm medo das mudanças.
Eu tenho medo que as coisas nunca mudem”. Isso nos leva a reflexão da
necessidade que se nos impõe de buscar transformar o mundo que nos cerca.
Complementarmente, Gandhi nos revela que “Temos
de nos tornar na mudança que queremos ver”. Se ali não se encontra o que
desejamos e é saudável, vamos até lá e promovemos a mudança.
O fato é que dever-se-ia ter
a coragem de enfrentar os desafios e não se deixar homogeneizar pela cultura
que se perpetua em todos os níveis de organização social e promove as
desigualdades que serve a um modelo de poder que se traveste de ético e justo.
Quero discutir mais é a
essência das coisas e não a simples aparência que muitas vezes escamoteia a
realidade e transparece atitude fiel e correta. Muito do que já falaram não
condiz com a prática cotidiana de quem usa a palavra. A distância entre a fala
e a ação parece ser a marca maior da hipocrisia humana.
Como disse uma importante pensadora da
sociedade contemporânea, Hanna Arendt: “A
ação é a expressão mais nobre da condição humana”. Os homens se definem pôr
seu “agir” entre os outros homens, influindo no mundo que os cerca. Esta
capacidade de agir em meio à diversidade de ideias e posições é a base da
convivência democrática e do exercício da cidadania. Só aí, na pluralidade e na
diversidade, é possível desfrutar da liberdade de criar algo novo. Desta forma,
o agir humano, é o campo próprio da educação enquanto prática social e política
que pretende transformar a realidade. Então, se através de uma participação
consciente, temos a possibilidade de mudar as relações, construindo uma
sociedade mais justa e igualitária, nem tudo está perdido!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor,
cidadão e contribuinte parnaibano.