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Professor da UFPI de Picos - Francisco de Assis de Souza Nascimento |
Inicio minha participação nesta banca agradecendo pelo convite para participar da defesa, de modo especial à Universidade de La Empresa, ao Programa de Pós-Graduação em Educação, ao decano da Instituição Prof. Dr. Enrique Martinez Larrechea às doutoras membros da banca de defesa Profa. Diva Romys, Ana Buti e do doutorando Iweltman Mendes. Este último agradecimento é componente integrador de uma memória afetiva e também de uma cartografia sentimental, pela interlocução com o autor desta tese, com seus familiares e amigos que testemunham a realização deste acontecimento histórico, que integra vidas, espaços sociais e geográficos. Como historiador da educação, membro do programa de pós-graduação em história da UFPI e membro do Núcleo de História e Memória da Educação(NEHME) sou duplamente privilegiado - primeiro pela inestimável oportunidade de ampliar meus conhecimentos sobre a história da educação do Piauí e pela experiência de sociabilidade, nesta prestigiada instituição de ensino.
Nesta oportunidade também parabenizo o autor da tese e seu orientador pela excelente contribuição científica na área de conhecimento histórico. Parabenizo porque não se trata apenas da obtenção de um título acadêmico, mas, de um testemunho histórico, que no mínimo reflete sua contribuição à sociedade piauiense e brasileira. A pesquisa também reflete um pertencimento histórico, ao Estado que adotou como seu, à Universidade Federal do Piauí, à Universidade Internacional do Delta, como também a instituições Educativas com as quais o autor mantém contato.
Tratando da análise da tese, deve-se partir da seguinte premissa: uma tese de doutorado deve ter rigor científico comunicado por três elementos fundamentais: 1°)diálogo teórico; 2°)laboriosa metodologia; 3°) operacionalização de fontes de pesquisas, articulados no texto científico, a partir da operação denominada pelo teórico Michel de Certeau, como operação escriturística.
O autor da tese, professor Iweltman foi extremamente feliz ao escolher seu objeto de pesquisa, vasculhando arquivos empoeirados, possuidor de notória sensibilidade histórica e garimpando fontes valiosas pouco visitadas na história da educação do Piauí, com habilidoso faro de historiador, portanto, atende criteriosamente aos rigores para pesquisa científica em nível de doutorado.
Como explica o historiador francês Roger Chartier, qualquer texto é também seu autor e o contexto de criação, numa constituição mútua, recíproca e resignificante, dessa maneira é possível identificar o autor da tese, docente que acumula em sua historicidade vinte anos de pesquisa e docência aliadas, ministrando aulas de história da educação, de forma crítica e compromissada com mudanças políticas, que tal ciência exige, inclusive utilizando a docência universitária e as publicações diversas como instrumentos de mudança social.
Diante da primeira leitura da tese, o leitor desavisado pode se questionar: 1) com que autoridade o autor faz tais afirmações? Em que fontes o autor se embasa para discutir aspectos de uma recorrência histórica de longa duração, além de uma memória fotográfica de leituras e memorização de livros e artigos? A resposta é apresentada pelo autor na sua vivência como pesquisador que constrói conhecimento e socializa seus saberes, fazendo da pesquisa a base da docência. Sua tese suplanta cânones acadêmicos e questiona a ditadura da citação.
O texto fundamentado na história cultural, tendo como fontes primárias documentos diversos como provisões régias, leis provinciais, decretos imperiais, leis, regulamentos etc. A análise é criteriosa, porém não concluída, demonstrando que a pesquisa histórica é processual e dinâmica. O exercício de pesquisa descortina fazeres e dizeres da educação, apresentando com maestria o Piauí como espaço praticado, os projetos políticos, sucessos, fracassos, conquistas e derrotas no plano da cultura.
Os objetivos da pesquisa foram atendidos na tese e apresenta diversas potencialidades. Destaco como contribuições no campo da história da educação no Piauí os seguintes aspectos: 1°) o pioneirismo ao enfocar o delicado tema da história e financiamento da educação piauiense, explicando os quadros da parede histórica, de uma passado distante e próximo, que piauienses merecem conhecer. 2°) a operacionalização de fontes primárias que contribuíram para referendar as hipóteses levantadas e explicar os processos sociais vivenciados no Piauí. 3°) acrescentar à historiografia da educação piauiense um texto de enorme importância que pode receber diversos olhares e novas perspectivas de enfoque, inclusive por contribuir na qualificação de professores, graduados ou graduandos dos cursos de licenciatura que possuem em seus projetos pedagógicos a disciplina de história da educação, como disciplina obrigatória.
A tese de Iweltman Mendes explica que o processo educativo foi tardio e pouco praticado na capitania, posteriormente província e estado do Piauí não pela inadaptação ou desinteresse dos filhos dos colonos, descendentes de escravos ou vaqueiros, mas pela contingências financeiras, pelas disputas de poder, colocando a educação como componente cultural no bojo da disputa política e econômica.
Minhas argüições que também podem servir como possibilidade para estudos complementares dizem respeito à memória em disputa, basicamente de dois aspectos enfocados na pesquisa que podem ser aprofundados.
1°) De que forma você analisa a afirmação do Pe. Claudio Melo, baseado em bula papal, ao afirmar que experiência do Seminário da Parnaíba teria funcionado numa fazenda na cidade de Buriti dos Lopes1? Por que você não explorou essa contradição?
2°) Com o propósito de enfocar mais a tese, interpelo: como o autor se posiciona em relação às afirmações de historiadores da educação no Piauí que o “atraso” na educação no período colonial e imperial seria explicado pelo desinteresse dos participantes, por serem escravos e vaqueiros?
Parabenizo novamente o autor da tese e seu orientador e desejo que rapidamente o texto seja lançando, podendo assim contribuir para ampliação do conhecimento acadêmico.
Prof. Dr. Francisco de Assis de Sousa Nascimento
Edição Blog do Pessoa