1 de nov. de 2014

Queda de rede.

Essa derrota eleitoral do Aécio Neves pra Dilma Rousseff no domingo dia 26 e valendo pela decisão do segundo turno das eleições presidenciais me lembra de quando a gente era pequeno lá em casa. Na maioria das casas se dormia em rede. Na maioria é até força de expressão porque naquele tempo se falar de cama em casa de gente pobre era mesmo que falar hoje em copo de vidro nos Morros da Mariana ou no Labino. Rede de pano listrado, vermelho, azul ou verde, comprado geralmente no final do ano ou dependendo do cuidado do dono, quando durava menos tempo. E naquele tempo menino urinava na rede.

Quem não urinava na rede podia ser considerado mais adulto e não corria o risco de passar vergonha na frente dos colegas de brincadeiras ou na escola ao ser apelidado de mijão. Dependendo desta particularidade a rede podia ter maior ou menor duração. Naquele tempo nem existia esse negócio de validade vencida, direito do consumidor, Procon, serviço de atendimento ao cliente. A rede rasgou, estava rasgada e pronto. Troca de rede era coisa feito se assumir uma cadeira no parlamento ou a troca da guarda da rainha da Inglaterra. Era coisa solene, com direito a festa e tudo mais. Depois era dormir naquela coisa novinha em folha e cheirosa, por enquanto.
Mas voltando ao assunto das compras de redes novas me lembro das dificuldades de meu pai pra dar sustento a um monte de meninos e meninas, todos em tempo de escola e de cuidados. Um calçado pra um nesse mês, um corte de pano pra uma das meninas no outro mês e assim a coisa foi indo até nós, cada um, tomar conta de suas contas. Mas isso já foi quase hoje depois que ganhamos asas e saímos pelo mundo. Rede era coisa de quando sobrava algum troco mais avultado. Era, me lembro, tecido tipo lona que papai comprava vários metros na loja do velho e elegante Antonio Thomaz da Costa, ali na rua Almirante Gervásio Sampaio e onde hoje é o Armazém Mesquita.

E lembro como todo homem que teve uma infância maravilhosa, as brincadeiras que a gente inventava. Essa coisa de entrar um magote de crianças dentre de uma rede só e sem achar que a corda poderia aguentar todo aquele peso. Num triscar de nada, num piscar e esfregar de olho e quando a molecagem está grossa a queda vinha assim em fração de segundos. Mais que de repente chegava a polícia de casa, mamãe, municiada com cinturão ou a palmatória e acabava de vez com aquela brincadeira besta, cheia de achamento de graça fora de hora e que corria risco de acabar num braço ou cabeça quebrada e ainda rasgar a rede comprada de pouco.

Mais engraçado era quando a gente sozinho, todo pachola, se fingindo de elegante só porque havia ganhado uma rede nova se esquecia da segurança e abusava no balanço. Nem saber se ia acabar em choro. Era questão de segundos e lá estava todo mundo no chão e com a cara mais limpa tentando explicação pra o ocorrido. Hoje imagino essa situação ocorrendo com Aécio Neves. Deixou muita gente entrar na rede. Entrou tanta gente que acabou comprometendo a segurança. Foi uma questão de segundos e lá estava ele e seus colegas no chão. A corda quebrou, acho.


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