25 de jul. de 2025

Quando o amor vira ameaça: feminicídio, saúde mental e o silêncio que mata

 

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Mais uma jovem vida foi interrompida de forma brutal no Piauí. Sarah Denise Alves dos Santos, de apenas 17 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-namorado, Fábio Rodrigues Braga, de 35 anos, no último dia 13 de julho, na zona rural do município de Beneditinos. A tragédia, que aconteceu diante de testemunhas e com requintes de frieza, não é um caso isolado. É mais um capítulo triste da epidemia de feminicídios que assola o Brasil, e que precisa, com urgência, ser enfrentada como uma questão de saúde pública, de segurança e, sobretudo, de mentalidade coletiva.

Sarah foi morta pelas costas. Ela estava com amigos em um bar, próximo a um campo de futebol, quando Fábio, já rejeitado e inconformado com o fim do relacionamento, a abordou. Após uma tentativa frustrada de conversa, ele voltou armado — com a arma do irmão, sargento da Polícia Militar — e atirou. Um amigo da vítima também foi baleado. Após o crime, Fábio tentou tirar a própria vida e segue internado em estado grave. Está indiciado por feminicídio e lesão corporal grave.

Este caso nos obriga a fazer perguntas difíceis: quantas mulheres precisarão morrer para que entendamos que o feminicídio não é apenas um ato isolado de violência, mas um sintoma de uma cultura enraizada no controle, no machismo e na incapacidade de lidar com a rejeição? Quantos homens ainda acreditarão que têm o direito de decidir sobre a vida da mulher que diz "não"?

É inegável que há também um fator de saúde mental envolvido. Um homem que tira a vida da ex-namorada e tenta se matar em seguida não está emocionalmente saudável. Mas essa constatação não pode servir de desculpa. A doença mental não mata — o machismo sim. Transtornos emocionais mal cuidados, aliados a uma cultura que naturaliza a posse e a agressividade masculina, se tornam um terreno fértil para tragédias como a de Sarah. Precisamos falar de saúde mental, sim — mas com responsabilidade e sem esconder o fator estrutural da violência de gênero.

Fábio não agiu em um rompante inexplicável. Ele agiu como tantos outros que se sentem autorizados a destruir o que não podem mais controlar. A arma era do irmão, um policial. O tiro foi pelas costas. E, como em tantos outros casos, o crime foi antecedido por tentativas de conversa, pelo desejo de retomar uma relação que já havia terminado. O padrão se repete: a mulher tenta seguir em frente. O homem, não aceita.

É urgente que escolas, famílias, igrejas, mídia e políticas públicas se unam para educar nossos jovens — principalmente os meninos — para o respeito, a escuta e o fim da cultura da posse. É urgente que homens entendam que não são donos das mulheres com quem se relacionam. É urgente que a saúde mental masculina deixe de ser tabu e seja tratada com o mesmo peso das demais pautas de saúde pública.

Sarah tinha apenas 17 anos. Ela sonhava, sorria, vivia. E foi assassinada por alguém que não soube lidar com a própria frustração. Que essa tragédia nos acorde. Que a morte de Sarah não seja só mais uma estatística. Que ela nos convoque a mudar.

Porque amar nunca deveria ser uma sentença de morte.

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