A cidade cresce com turismo de luxo, mas moradores e piauienses denunciam exclusão social, preços abusivos e perda de identidade local.
O estado com menor litoral do país ainda consegue afastar os nativos e até os turistas que no Piauí nasceram. Essa é uma realidade triste e verdadeira.
Localizada no município de Cajueiro da Praia, extremo norte do estado, a vila de pescadores se transformou num dos destinos mais desejados do Brasil. Mas a transformação veio acompanhada de um gosto amargo: a sensação de que o paraíso não é mais para quem nasceu ali, e nem para quem é de qualquer canto do Piauí.
Terrenos especulados por valores milionários, e eventos privados que fecham acessos à praia são apenas parte da nova paisagem. O que antes era chão de areia e redes na varanda, virou um cenário gourmetizado, onde a cultura local virou adereço e o povo nativo virou coadjuvante.
Nos últimos cinco anos, BG passou a atrair investidores do Sudeste e do exterior. Pousadas com arquitetura minimalista, beach clubs que imitam Mykonos, restaurantes assinados por chefs premiados. O marketing fala em “simplicidade sofisticada”, mas a realidade, para quem é da terra, é outra: preço impeditivo, invisibilidade social e ruptura cultural.
Moradores relatam que já não conseguem frequentar os mesmos espaços da orla onde cresceram. Jovens da região enfrentam dificuldades para trabalhar nos novos empreendimentos, muitas vezes sendo preteridos por mão de obra qualificada de fora. E o turismo, que poderia fomentar a cultura local, hoje importa DJs e chefs, mas ignora sanfoneiros e rendeiras. Estranho tanto como a realidade de tudo que trago nessa matéria.
Durante feriados prolongados e festas de alta temporada, moradores denunciam que trechos da praia são cercados, com limitação de entrada para não hóspedes ou não pagantes. BG virou um condomínio a céu aberto, com segurança privada, consumo premium e uma lógica de exclusão velada.
Não é sobre o luxo, é sobre o acesso
Quem ganha com a nova BG?
O avanço da especulação imobiliária pressiona famílias a venderem suas casas por valores que parecem altos, mas não sustentam a vida fora da comunidade. Ao deixar suas raízes, muitos perdem o vínculo com a cultura local e se tornam dependentes de empregos precários.
É um ciclo de exclusão que disfarça opressão com sofisticação.
A prefeitura de Cajueiro da Praia comemora os ganhos com o turismo, mas ainda não apresentou um plano concreto de inclusão social e proteção territorial. Ambientalistas também alertam para os impactos do crescimento desordenado, especialmente no ecossistema do Delta do Parnaíba.
Enquanto isso: resistência feminina e territorial em BG
Enquanto o turismo de luxo toma conta das areias de BG, há outro movimento pulsando silencioso, ancestral e profundamente transformador. Ele vem das mulheres do mangue, das marisqueiras da Resex do Delta, das lideranças que não cabem nos “beach clubs”, mas carregam nas mãos a memória e o futuro do território.
Entre vivências com marisqueiras, encontros de culturas e formação em sustentabilidade, essas mulheres lutam contra o apagamento das populações tradicionais e pela valorização dos saberes locais. Elas não aparecem nos catálogos de viagem, mas são essenciais para que o litoral continue sendo vida e não apenas produto. Enquanto alguns lucram com a paisagem, elas defendem o direito de existir nela.
Ainda falaremos mais profundamente aqui na coluna sobre esse projeto que acredito, poucos leitores conhecem.
O Ponto de Ruptura
Barra Grande virou tendência, cartão-postal, destino de celebridades e pauta de revistas de viagem. Mas o que deveria ser orgulho para o povo piauiense se tornou um espaço de exclusão. A pergunta que ecoa é: até quando o Piauí vai aceitar ser bonito só para os outros?
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