31 de jul. de 2024

A RESPEITO DO CORONEL PESSÔA ANTA E A PARNAÍBA

Da Série: Estórias a Respeito da História da Parnaíba

Vicente de Paula Araújo Silva

Recebi recentemente um exemplar do livro PESSOA ANTA – EXECUÇÃO 0U ASSASSINATO ?, com autoria de Maria Odele de Paula Pessôa, tratando do fuzilamento do Coronel João de Andrade Pessoa [Pessoa Anta], em 30 de abril de 1825, por ter comandado o movimento revolucionário “Confederação do Equador” na vila de Granja (CE).

A ilustre autora, juíza aposentada pelo Tribunal de Justiça do Ceará, tem ação judicial de Revisão Criminal do Coronel João de Andrade Pessoa, transitando no Superior Tribunal Militar.

Em Nota Explicativa existente, na sua obra sobre a participação do seu ente familiar no movimento nacionalista proclamado em Pernambuco no ano de 1824, faz um chamamento para a leitura quando expressa:
“Um fato histórico não existe por si só.

É ele, sempre, um acontecimento causado e, ao mesmo tempo, causador.

Sua perfeita compreensão exige o conhecimento do que lhe é anterior do qual o originou, por dele ser indissociável.

De igual sorte, encontra-se também interligado ao que o seguiu, ao que lhe é posterior, donde se tem que, sem a completa visualização do antecedente e do consequente que nele se conjugam, impossível se torna a identificação
do seu caráter histórico, político ou social.

Assim, um recuo no tempo se impõe para a narrativa de eventos históricos já conhecidos. Não, apenas, porque nela estar o seu autor, o seu agente, mas, igualmente, porque nas suas linhas e entrelinhas existem pulsações vibrantes de vida, até então intransigíveis, na ansiosa expectativa de serem percebidas”.

Neste ano de 2024, organizações ligadas às tradições históricas nordestinas, estão celebrando, com eventos, os 200 anos do movimento nacionalista da Confederação do Equador, que passou por Parnaíba, dada as ligações políticas entre a Villa de São da Parnahiba e Granja, desde o desenrolar do processo de Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, e o brado de adesão entonado pelos parnaibanos em 19 de outubro de 1822, na voz do Coronel de Milícia Simplício Dias da Silva, razão da invasão, em 18 de dezembro de 1822, da Villa da Parnahiba, por tropa com bandeira portuguesa sob o comando do Governador das Armas da Província do Piahuy [Major João José da Cunha Fidié], que após diversos combates no Piauí e Maranhão, capitulou em Caxias (MA)
em 01 de julho de 1823.

O estreito laço político entre o Coronel de Milícia Simplício Dias da Silva e o então sargento-mor das Ordenanças e do 23º Batalhão do Regimento de Infantaria Miliciana das Marinhas de Acaracu e Camocim, Comandante Geral das Ordenanças da Vila de Granja, ocorreu a partir do momento em que os comandantes do ato de 19 de outubro em Parnaíba, chegaram em Granja, em busca de apoio militar, e o tiveram a partir do momento em que o aparato militar
de Granja, comandado pelo Sargento-mor João Andrade Pessoa, estabeleceu-se em Amarração, impedindo o avanço da tropa portuguesa sob o Ceará, e dando suporte à tropa em arregimentação para a retomada da Villa de São João da Parnahiba e zona litorânea do Maranhão até Tutoya.

Após esse feito, durante o movimento revolucionário pró república da Confederação do Equador, deflagrado em Pernambuco [02 de julho de 1824], o nome de Pessoa Anta figurou como o líder do movimento na região norte ocidental do Ceará, sendo responsabilizado pela propagação do movimento através da câmara de vereadores de Granja, onde, no Piauhy, a Câmara Municipal de Parnaíba, também aderiu por unanimidade à causa republicana ditada em Pernambuco, sob diretrizes dos seus parceiros na Villa da Parnahiba: Simplício Dias da Silva e João Cândido de Deus e Silva,
em 25 de agosto de 1824.
Mas, a respeito do homem conhecido como Pessoa Anta, vale
mencionar alguns tópicos de sua biografia que têm a ver com
Parnaíba.
Era filho do português, capitão Thomaz Antonio Pessoa de Andrade e de sua mulher dona Francisca Maria de Jesus. Na vila de Granja foi destacado fazendeiro e político.
Casou-se com Raymunda Ferreira de Veras, neta do Coronel
Domingos Ferreira de Veras cc Joanna da Costa Furtado, e irmã de Victorino Ferreira de Veras cc Francisca Alves Pereira [fundadores da Fazenda das Almas no litoral extremo oeste cearense]. Desse enlace nasceram os quatro filhos: Francisca Pessoa de Sampaio; Maria de Andrade Pessoa; Anna de Andrade Pessoa e Thomaz Rodolpho de Andrade Pessoa.
Por sua atuação no combate à tropa sob o comando do major João José da Cunha Fidié, em Amarração, Parnahiba e Tutoya, foi nomeado Coronel de Milícia e condecorado com oficialato da Ordem do Cruzeiro.
Ao ser fuzilado em Fortaleza, em 1825, sob pretexto de liderar em Granja (CE) a Confederação do Equador, declarou no seu testamento assinado em 22 de abril daquele ano, que a sua esposa já era falecida. Realmente ela falecera durante o período em que esteve no Piauí e Maranhão a serviço de Pedro I.
Os argumentos para a sua prisão e fuzilamento, foram
fundamentados na adesão de Granja ao movimento revolucionário, firmado pela câmara municipal da vila, com apoio de pessoas de sua família, cujas assinaturas apareceram no documento, embora não constasse a sua. Mas, para todos os efeitos, segundo os seus desafetos, ele era o líder dos adesistas à promulgação da República
no Ceará em 26 de agosto de 1824.
A partir daí muitos fatos lamentáveis aconteceram em Granja com familiares das pessoas que assinaram o documento, fazendo com que alguns deles fugissem para outras províncias. Abrigaram-se na Villa da Parnahiba, sob o braço protetor do Coronel Simplício Dias da Silva, os irmãos Plácido Fontenele e Amaro Fontenele, filhos do francês Jean Fontainelles. Ainda hoje, vivem muitos dos seus descendentes na cidade da Parnaíba.

Esses fatos, explicitados no livro de Maria Odele de Paula Pessoa,alguns deles publicados na Revista Trimensal do Instituto do Ceará, estão substanciados pelos historiadores Barão de Studart e João Brígido, tendo este último definido o sacrifício de Pessoa Anta, como sendo patrocinado pelo rancor de Marcos Antônio Brício [chefe da colônia portuguesa, escrivão demitido da Junta de Serviço da Fazenda no Ceará], e a conivência criminosa do presidente da Comissão Militar.
Lendo a obra da escritora Maria Odele de Paula Pessôa, firma-se o entendimento do seu título PESSOA ANTA – EXECUÇÃO 0U ASSASSINATO ? , quando se comemora 200 anos da Confederação do Equador.


Phb, 29/07/2024 – Vic.

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