27 de ago. de 2022

A farsa por trás da carta!

Prof. Dr. Geraldo Filho (27/08/22)


A história do mundo é a história dos indivíduos e suas ideias, elas surgem como resultado das experiências próprias de cada um com o ambiente! Portanto, não são determinadas exclusivamente pelas condições materiais (econômicas) de nascimento, pois está claro que a vivência humana supera em muito o simples aspecto econômico (a vida não se reduz ao estômago!).

Algumas delas agregam pessoas que compartilham interesses e são motivadoras de aperfeiçoamentos que traçam destino de crescimento e desenvolvimento de sociedades, as tornado vencedoras; por outro lado, outras com o mesmo efeito agregador, diferente de melhorar condenam sociedades ao fracasso ou a mediocridade de ser uma eterna promessa!
 
A história do Brasil, para a sociologia de bancada (cientifica, não a de militantes políticos que as universidades formam no atacado e que mal leram um livro inteiro!), é uma demonstração cristalina da luta entre os dois tipos de ideias, infelizmente com o jogo pendendo para o lado das perdedoras.

Veja-se o caso recente do PIX! O PIX, gratuito, arrancou bilhões de Reais dos grandes bancos brasileiros privados (Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil), que cobravam taxas exorbitantes sobre transações financeiras simples como um TED (transferência eletrônica direta). Alem disso, como meio de pagamento, o PIX facilitou a vida de milhões de empresas e pessoas.

Ora, não satisfeitos com a perda de alguns bilhões de Reais de lucros, apesar de não terem tido prejuízo (reduziram a margem de lucro, não entraram no vermelho!) o capital financeiro nacional resolveu se posicionar contra o governo federal, com o objetivo de, pasmem, cobrar taxas de movimentação do PIX e assim acabar com uma das melhores ideias levadas a efeito por um governo nas ultimas décadas.

A manifestação política dos bancos privados ao assinarem a “Cartinha pela Democracia da USP” (que aliás deveria se preocupar era em melhorar sua posição no ranking recente das universidades pelo mundo, que a colocou no intervalo entre o 101º e 150º lugar) é a demonstração eloquente das ideias que condenam o Brasil ao fracasso e a mediocridade de eterna promessa, exatamente em momento no qual o país pode crescer e se desenvolver.

A reação dos banqueiros é compreensível como consequência de um grupo tradicional cuja posição no mercado se sente ameaçada pelas inovações financeiras digitais ágeis e baratas, que atingem a grande massa da população como o PIX e as “fintechs” (bancos digitais), popularizando o acesso ao mercado financeiro. No entanto, ela deixa de ser aceitável e razoável quando para mascarar seus interesses contrariados se esconde por trás de ataques políticos contra um governo nitidamente liberal-conservador, defensor e promotor do livre-mercado e da concorrência, fazendo aliança com partidos de esquerda comprovadamente corruptos, em nome de uma suposta ameaça a democracia brasileira. 

Esse tipo de reação, motivada por ideias retrógradas, já se manifestou pelo menos duas vezes na história do Brasil moderno, pós Revolução de 30, sempre com o mesmo mote de “defesa da democracia” mas, no entanto, como agora, camuflando interesses contrariados. A primeira foi a Revolução Constitucionalista de 1932, liderada por São Paulo; a segunda a derrubada por impeachment de Fernando Collor (impeachment que não aconteceu, pois Collor renunciou).

Por trás dos “constitucionalistas” de São Paulo estavam as tradicionais oligarquias ruralistas da Velha República, que depuseram o Império e descentralizaram o poder político, o dividindo pelos estados, criando uma República comandada por paulistas e mineiros. A visão de mundo que agregava os interesses ruralistas há época era antiquada, quase mercantilista, que acreditava que a riqueza de um país era extraída da terra, pouco valorizando a riqueza gerada pelas atividades manufatureiras industriais. Na prática isso significava pouco crédito governamental e bancário para os investimentos na industrialização, engessando a economia no regime de criação e plantação extensiva das grandes fazendas.

Foi necessária uma ditadura cívico-militar, que compartilhava ideias de industrialização, para transferir parte da riqueza gerada na agropecuária para o setor industrial, estimulando seu crescimento com crédito e infraestrutura. Diante do choque de visões de mundo, como se posicionaram os ruralistas?! Em nome da promessa de restabelecimento da “normalidade democrática” com a feitura de uma nova constituição, pois Getúlio Vargas, como ditador, havia recentralizado o poder, portanto se deveria derrubá-lo, o que se tentou pela força das armas. Bem, como se sabe, Getúlio venceu e a industrialização em escala começou com o “modelo de substituição de importações”. Será que esse processo teria sido desencadeado se os oligarcas ruralistas paulistas tivessem sido vitoriosos?!

O tempo passou e o Brasil chegou industrializado em 1989. Fernando Collor foi eleito vencendo as primeiras eleições diretas depois do fim do regime militar (1964-85). O presidente aplicou o primeiro choque de liberalismo econômico do Brasil moderno, abrindo abruptamente a economia brasileira para a concorrência do mercado externo, com o objetivo de baratear preços de bens e serviços e submeter à competição inovadora o setor industrial, acomodado por 60 anos de proteção governamental.

No papel dos oligarcas ruralistas de 1932 estavam os grandes industriais que cresceram com o “modelo de substituição de importações” de Getúlio Vargas, que tinha como premissa fundamental a proteção dos investimentos industriais nacionais contra a concorrência dos produtos estrangeiros. O resultado foi a criação de uma zona de conforto garantida pela reserva de mercado para os produtos brasileiros, cujas características eram: baixa qualidade, preços caros, pouco estímulo a inovação e mercado interno garantido.

Diante do novo choque de visões de mundo, como se posicionaram os industriais?! Em nome da “correção do espírito público democrático” acusaram Fernando Collor de corrupção, por ter se apropriado de “sobras de campanha” (na época eram permitidas doações de empresas para campanhas eleitorais e não existia o absurdo fundo eleitoral público de hoje). Notem que o processo de impeachment não se baseava em desvio de dinheiro publico, tanto que posteriormente Fernando Collor foi inocentado no STF, porém já havia renunciado! 

Quem ajudou os industriais na ação de derrubada do Presidente Fernando Collor?! Os que compartilhavam a visão de mundo na qual o governo deveria sempre proteger o empresariado nacional, como foi desde Vargas, tendo como contrapartida por parte das empresas (já que não se estava mais em regimes ditatoriais) os gordos financiamentos dos partidos políticos nos pleitos eleitorais, cada vez mais custosos. Por isso, nas fotos do inicio dos anos 90 se encontrarão de “carinhas pintadas” e aliados na trama PT, PSDB, PMDB, PFL (Democratas) e os PCs (PDT,PSB) da vida.

Hoje, no papel que um dia foi dos oligarcas ruralistas (que se tornaram o agronegócio atual) e depois dos industriais nacionalistas (que se integraram as cadeias de produção global) se encontram, sobretudo, banqueiros e empresários de jornais e televisão, massacrados pela inovação digital das tecnologias de informação. Seu objetivo é repetir a trama perpetrada contra o primeiro choque liberal de 1990 (que evidentemente teve seus erros, como a falta de apoio no Congresso). Como lá, PT, PSDB, PMDB e os PCs (PDT, PSB) de sempre estão novamente aliados! Será coincidência?! Lá eles venceram e o Brasil ficou mais uma vez na mediocridade da eterna promessa. Se cá eles vencerem de novo, diante da geopolítica do mundo atual, o Brasil não terá outra oportunidade de se tornar uma potencia livre e independente, pois será engolido pela extensão dos interesses do bloco eurasiano (Rússia e China) ou do bloco euro-norteamericano.

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