2 de jan. de 2019

Livro de Zózimo Tavares reconstrói legado de Alberto Silva

Era 1979. Abril, salvo engano. Os funcionários do antigo hotel Bom Ar, na rua Paissandu, Centro de Teresina, estavam em polvorosa. Só falavam numa coisa: o retorno do ex-governador Alberto Silva ao Piauí, recém-empossado senador da República com a morte, pouco dias antes, do então senador e ex-governador Dirceu Arcoverde. 
Todo mundo se organizando para ir ao aeroporto receber o novo senador. Então com 12 anos de idade, recém-chegado a Teresina para continuar os estudos, e instalado por meu pai ali no Hotel Bom Ar, eu assistia a tudo entre curioso e incrédulo. O que tinha esse tal Alberto Silva para causar aquele alvoroço todo?... Como se fosse um ídolo da música ou uma estrela da televisão? 
Livro de Zózimo Tavares. (Foto: Divulgação)
Alberto Silva, para mim, não era mais do que um candidato ao Senado derrotado que chegava ao cargo ante o infortúnio de Dirceu Arcoverde. O tempo mostrou que ele era muito mais do que minha ignorância e desconhecimento de política permitiam enxergar. 
Prefeito de Parnaíba duas vezes e governador do Estado entre 1971 e 1975 (indicado pelo Regime Militar), seria novamente governador entre 1987 e 90, deputado federal de 95 a 98 e de novo senador de 99 a 2006, ano em que se elegeria, já aos 87 anos, para novo mandato na Câmara Federal. 
Morreria em 2009, aos 90 anos, consagrado como uma das maiores lideranças políticas da história do Piauí, um visionário como nunca se vira na política do Estado. Ou, como diz o jornalista Zózimo Tavares em “Alberto Silva – Uma Biografia”, “um homem que pensava grande e realizava, igualmente, obras grandiosas”.
Lançado há duas semanas pela Editora Bienal, “Alberto Silva – Uma Biografia” é o 13º livro do jornalista e escritor Zózimo Tavares. Traz a história do biografado desde os tempos de estudante em Parnaíba, passando pela graduação em Engenharia Elétrica em Itajubá (MG) e a entrada na política em sua cidade natal, na década de 1940, quase por acaso e sob protestos da esposa, Dona Florisa. 
Concentra seu relato, porém, no primeiro mandato de governador, “e no surgimento do mito no qual se tornou o biografado”, como escreve o próprio Zózimo na apresentação da obra. “Alberto Silva – Uma Biografia” é exatamente isso: ao narrar a história do biografado, do estudante que só queria aprender a resolver problemas de engenharia para o político e gestor que sonhava e realizava, o livro explica o mito no qual Alberto Silva se transformou ao longo de mais de 60 anos de vida pública. 
Com riqueza de pesquisa e em linguagem simples e direta, mostra como o jovem parnaibano, que desde menino tinha interesse em mecânica e engenharia, encontrou na Escola de Itajubá o ambiente ideal para aprender a transformar sonhos em realidade – a escola tinha como filosofia ensinar o aluno a pensar e a descobrir o problema a ser resolvido, para só então apresentar a solução certa para cada problema. E colocá-la em prática. 
Segundo o próprio Alberto conta no livro, sua formação técnica foi a base para a entrada na política, concorrendo (e vencendo) a prefeito de Parnaíba no final da década de 40, e o fundamento de suas duas gestões como governador do Piauí. Estão no livro também curiosidades, como as mal disfarçadas desavenças com Petrônio Portella e outras lideranças políticas de sua época, e o ostracismo a que Alberto foi relegado em passagens de sua vida pública. 
A maior importância da obra de Zózimo Tavares, porém, está no que ela representa como resgate e reconstrução do legado político e administrativo de Alberto Silva. Ao mostrar como ele, à base de sonhos, visão de futuro, ousadia e determinação de fazer, transformou o Piauí a partir de um modelo de gestão que priorizava obras que ainda hoje, mais de 40 anos depois, permanecem atuais e fundamentais para a população, o livro permite entender o mito Alberto Silva e oferece um rico acervo para estudantes, pesquisadores e interessados na história política e administrativa do Estado.
E explica um pouco o porquê de todo aquele alvoroço entre os funcionários do velho Hotel Bom Ar, naquele longínquo abril de 1979.
Fonte: Portal AZ 

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