No meu tempo de menino,
quando havia meninos livres do computador, dos jogos eletrônicos e do celular,
a gente brincava com o que tinha por perto. Tanto fazia serem meninos que
moravam no interior, na dita roça, ou meninos que moravam em casas onde havia
quintais. E tendo quintais, tinham mangueiras. E tendo as mangueiras, davam
mangas. E eram mangas boas e que maduras, a gente comendo se lambuzava todo.
Coisa de limpar as mãos nas pernas dos calções encardidos.
Mas tinham também as
mangas que não vingavam e acabavam caindo por causa do vento ou alguma outra
coisa que derrubava. Essas, agora no chão, iriam servir pra comida de algum
animal pequeno, roídas por besouros ou viravam brinquedo na imaginação dos
meninos. Era correr em redor atrás de gravetos ou ir lá dentro de casa e pegar
uns palitos de fósforos queimados, jogados perto do fogão, e com eles colocar
pernas nas manguinhas. Estava criado o boi de manga.
E a gente, os meninos
do meu tempo, ficava horas e mais horas brincando com aquelas coisinhas,
falando sozinhos, inventando conversas com pessoas, se dizendo donos de
fazendas e tudo o mais. Se vendia e se comprava. Se colocava no curral e se
dava de comer e beber. E depois se levava pro pasto. E a imaginação voando pra
cima da cabeça dos meninos de meu tempo era coisa de milhões de minutos.
E se eram outros e mais
meninos havia a disputa de quem mais tinha essa fortuna, as corridas, as
vaquejadas, os pequenos currais de gravetos, a venda e a troca de bezerros e
garrotes. Os meninos de meu tempo exercitavam de forma mais natural isso que os
estudiosos hoje chamam de liderança. E os bois de manga iam com o passar das
horas e dos dias sendo esquecidos no fundo do quintal e agora murchos acabavam
sem importância.
Assim são os políticos
de nosso tempo. Juntam as pequenas mangas caídas entre o povo ignorante.
Aquelas bem verdinhas e que não vingaram e muito menos chegaram a ficar de vez.
Os meninos de meu tempo, que são os homens e os líderes políticos de hoje,
aprenderam de forma muito simples, natural a comandar e ter sob sua influência
os menos instruídos. Os bois de manga são o povo que se deixa manejar sem
reação e sem grito.
Sabem estes líderes que
sem educação, sem estímulo ao trabalho e influenciados pela imprensa
irresponsável, principalmente a televisão e as hoje redes sociais, essa massa é
facilmente manobrada pra dentro de currais de graveto. Estamos vivendo neste momento uma transição
entre os meninos e os homens. Entre as brincadeiras e a realidade. E quando
este momento mágico dos meninos, de conversar com manguinhas verdes passar, a
crueldade dos dias volta a fazer parte da vida de todos.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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