30 de jan. de 2017

VAREIROS E ALGO MAIS


Por:Benedito Gomes(*)

Em comentário feito anteriormente sobre o Rio Parnaíba deixei, quase que de propósito, de falar em dezenas de pessoas simples, rudes, brincalhonas e inteligentes. Às vezes zangadas porém muito trabalhadoras. Homens fortes, jovens robustos, dispostos a enfrentar um trabalho pesado, que era a chamada “Carreira do Rio”.
Muitos eram de Parnaíba. Os demais das cidades ribeirinhas, onde as canoas e barcas atracavam para entregar e receber mercadorias. 
O porto de Repartição, em Brejo – MA, era um dos mais movimentados da região, pois recebia grande quantidade de produtos como coco babaçu, cera de carnaúba e muitos outros, oriundos dos municípios de Brejo, Burití (da Inácia Vaz), Anapurus, Chapadinha, e de dezenas de povoados como: Corrente, Forquilha, Veado Branco, Carrapato, Buriti Grande e etc. Tudo transportado em carro de boi, que eram dezenas. Em um deles meu pai era carreiro e algumas vezes eu fui guia, aquele menino que ia na frente e os bois o seguiam. Foi assim que conheci de perto e ficava impressionado com aquelas manchas escuras que eles vareiros tinham no peito, uma de cada lado. Era a marca do esforço deixado pelo pé da vara que os mesmos usavam para movimentar as grandes e pesadas barcas e canoas.
Todo este trânsito de veículos aquáticos, incluindo vapores e rebocadores tinha como ponto final o cais de Parnaíba. Depois da embarcação atracar no cais, do porto dos tucuns ao atual porto das barcas, os estivadores entravam em ação para embarque e desembarque. Os vareiros estavam de folga, alguns iam para casa, outros ficavam embarcados e à noite tinham bom divertimento com bebidas e muito mais, na velha e conhecida Munguba. Se alguém tivesse a audácia de chamar um vareiro “Porco D’água”, ou corria ou apanhava. O movimento era continuo, no cais, no rio e no bairro São José, onde circulava muito gente e dinheiro.
O que era feito das centenas de toneladas de mercadorias que chegavam em Parnaíba?Iam diretamente para os armazéns das grandes empresas importadores e exportadores que cidade tinha na época, tais como: Casa Marc Jacob, Pedro Machado S/A, Casa Inglesa, Machado Trindade e Moraes S/A.
Uma pequena parte ficava para consumo da população local e região norte do estado, a outra bem maior era reembarcada e exportada pelo porto de Tutoia – MA, para o Brasil e também para o exterior.
Dai para frente ficava por conta das lanchas rebocadoras, das grandes barcaças e da estiva, que fazia todo o reembarque e logo seguia em comboio para o porto de Tutoia – MA.
Os possantes rebocadores como Edmundo, Esnisa, São Bento e as lanchas Luma e Jurema, fizeram este percurso centena de vezes, na maioria delas puxando até três grandes barcas em fila indiana.
Navios da empresa Loyd Brasileiros e os Salineiros Piancó, Chuí e Araribá, traziam mercadorias para o estado do Piauí e voltavam carregados de sal, torta de bacalhau e todo tipo de produto que Parnaíba exportava.
Pelo casario da Presidente Vagas e outras ruas do centro; pela estrutura gigantesca que tinha o Porto das Barcas, pelo cais construído desde o Sesc ao Porto dos Tucuns, Parnaíba era realmente uma cidade rica e progressista, conhecida no Brasil e no mundo. E hoje como está Parnaíba? Continua um grande centro comercial, um forte polo cultural, turístico e universitário, sem dúvida, a cidade da esperança e do futuro.

(*)Benedito Gomes
Contador UFPI

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