29 de fev. de 2012

A polícia indefesa (Luiz Felipe Ponde)

Qual o "produto" da polícia? Liberdade dentro da lei, segurança, enfim, a civilização
A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.

Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.

Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.

Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).

A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.

Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade. A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu. Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.

Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.
Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.
Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.

Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.

Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.

Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.

Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.


ponde.folha@uol.com.br

7 comentários:

  1. Meu amigo vc ta de parabens, essa materias é o maximo, uma forma tecnica e original de como fazer atransparencia da problematica da insegurança em nossa cidade, fala é muito facil a conversa dos politico agora fazer e ter atitudes essa eu quero ver, muito boa e bem estilosa, essa materias relata em todas as situaçoes que nos envolver em nosso codidiano.

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  2. Pura verdade! Parabéns pelo texto! Realmente se não valorizarmos o serviço da polícia não estamos preparados para valorizar nenhum outro tipo de serviço...

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  3. Olá leitores do blog, queria fazer uma pergunta. É correto um policial chegar batendo e nos empurrando contra a parede, bater em nossas perna para abrir sendo que ninguém demostrou atividade suspeita ou resistência, então um policial pode chegar fazendo isso ou ele tem que tentar manter a lei de uma forma pacifica e não gerando mais violência?

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  4. ao @coek_modeom

    Com certeza que não são certas as atitudes mencionadas por vc, caso isso aconteça com vc procure o batalhão e faça sua denúncia...

    mais com certeza é de seu conhecimento que qualquer cidadão pode ser abordado na rua, pela policia, desde que esteja em atitude suspeita e essa abordagem não necessariamente deve ser acompanhanada de autorização judicial(MANDADO) é o que diz o art.244 do Código de processo penal....

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  5. se colocarmos 10 policiais piauienses num saco e mexer bem , saem 20 bandidos de la de dentro!!

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  6. Vamos utilizar a mesma lógica, o anônimo 19:50 quer dizer que cada policial vale 2 bandidos, digamos que este mesmo saco balançado, com esses 10 policiais, saia no máximo ou 8 comerciantes, ou 4 advogados ou com muita sorte 01 político. Infelizmente a corrupção e a sonegação no Brasil tem raízes muito profundas.

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  7. Sem generalizar a classe.
    É um texto muito interessante. Mas há um problema com meia dúzia de policiais no Brasil, eles pensam serem grandes autoridades, eles não falam com você, praticamente te ordenam, como se você fosse um comandado deles, pensam que só por serem policiais podem tudo. Em algumas abordagens a humilhação é imediata, independente de ser bandido ou cidadão, pra eles todos são ilegais. Querem ser chamados de senhor, mas não te chamam assim, muitas vezes metem a bordoada chamam de vagabundo, folgado e por ai vai. E se for problema ganhar pouco basta estudar e mudar de profissão. Já pensou se todo mundo que trabalha resolvesse se revoltar porque ganha pouco e fosse pra rua humilhar outras pessoas? Essa de fazer denuncia sobre excesso praticado por policiais não cola, o corporativismo fala mais alto, um policial não dedura o outro, mesmo que ele esteja errado, tem rabo de palha (temos vários exemplos mostrados na TV). Um policial não pede ele pensa que só pode mandar e a você resta somente obedecer, caso contrário toma bordoada, depois é só alegar resistência, legitima defesa, etc. Acho que antes de admitir uma pessoa como policial deveriam exigir educação superior, talvez assim conseguíssemos um policiamento melhor. Ou então treinar melhor para que ele apredesse a separ o jôio do trigo.

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