Blog do Pessoa: O DITALPI e a miopia da nossa representação política! (*)


30 de nov. de 2015

O DITALPI e a miopia da nossa representação política! (*)

Agora vai! Com direito a mais uma reunião, holofotes e discursos recentemente se reuniram alguns representantes do povo piauiense para discutir a retomada da obra de conclusão da etapa final do Perímetro Irrigado Tabuleiros Litorâneos do Piauí – DITALPI, projeto que tem como finalidade promover a fruticultura irrigada na região Meio Norte do Brasil. Agora vai!
O “Encontro Técnico” foi promovido pela Prefeitura de Parnaíba para tratar sobre os temas: pecuária leiteira e Perímetro Irrigado. O evento aconteceu no auditório da Embrapa, contou com a presença de produtores, autoridades políticas estaduais e federais, dentre elas o governador Wellington Dias, o senador Elmano Férrer, o prefeito Florentino Neto e o suplente de deputado estadual Zé Hamilton.
Com exceção do senador, os três, já tiveram oportunidade de fazer algo pelo setor e pouco fizeram! Talvez por isso, assumiram, mais uma vez, o compromisso de defender a produção agrícola irrigada, que está calcada na promoção da geração de emprego e renda, dentro dos princípios do desenvolvimento local, integrado e sustentável. Um modelo extraordinário, mas que a representação política ainda não entendeu!
Para compreender um pouco mais, voltemos no tempo. Os primeiros estudos para implantação do perímetro irrigado dos tabuleiros litorâneos é de 1979. A concepção do projeto era excepcional. Era o governo Sarney (1988) e foram criados três distritos de irrigação: Tabuleiros Litorâneos (PI), Vale do Acaraú (CE) e Tabuleiros de São Bernardo (MA), com um Centro de Pesquisa de Agricultura Irrigada (CNPAI) da EMBRAPA que foi implantado em Parnaíba para dar o suporte técnico.
O DITALPI foi o primeiro perímetro público, dos 96 existentes no Brasil a ter área com certificação orgânica, cultivo sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos e outras substâncias tóxicas e sintéticas. Com isso, evitava-se a contaminação dos alimentos e do meio ambiente. Esta produção iniciou em 2003 e a ideia era de que em pouco tempo toda a área estivesse livre de químicos, agregando-se mais valor à produção.
Porém, o perímetro não teve o apoio necessário. O CNPAI fechou em Parnaíba e ninguém fez nada pela sua manutenção. Os produtores não tiveram nenhum subsídio pela produção orgânica. O “preço” de um produto orgânico não pode ser “contabilizado” somente pelo seu valor de troca.  A agricultura orgânica evita a contaminação dos trabalhadores com agrotóxicos, lençol freático com fertilizantes e minimiza-se drasticamente os impactos sobre a fauna e a flora. Imaginemos a carga de agrotóxicos que se tem evitado lançar no rio Parnaíba e águas subterrâneas acaso fosse tudo convencional?
Os produtores deveriam ser recompensados com políticas de redução de custo de energia e encargos, assistência técnica e médica, educação de melhor qualidade, etc. Mas, os nossos representantes políticos o que têm feito? No máximo “ufanar-se da experiência bem sucedida”.
Atualmente existem 588 hectares em produção, área estagnada a cinco anos, destes, 300 ha de acerola e 21 de caju orgânico, o resto é convencional (outubro, 2015). Segundo o produtor Josenilto Lacerda “Já chegamos a ter 2/3 da área com orgânicos, caímos para 1/2 e em mais uns dois anos chegaremos a 1/4".
A falta de apoio está levando à redução da área cultivada organicamente. Lamentável! O custo é mais alto porque a produtividade é menor, a gestão é mais complexa e os insumos são mais caros. Para o mercado consciente, há uma pressão dos consumidores por produtos saudáveis, mas eles "não estão dispostos" a pagar o “preço”, por um lado e por outro falta uma política de incentivo e efetivo apoio à produção.
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos irrigantes é o custo da energia elétrica. Eles têm um débito astronômico junto à Eletrobrás. Há anos tentam renegociá-lo, sem sucesso. Nesta última semana ocorreu uma reunião em Teresina com a concessionária, o governador e o DITALPI.  Ao fim saiu uma minuta de parcelamento de 180 mil por mês aos irrigantes. Impagável! É esse tipo de apoio que chega!
E a lei de subsídio para irrigantes? Nem falam. Sobre esta questão o governador admitiu que, dos cerca de R$ 70 milhões abdicados por ano com incentivo da irrigação, a maioria é indevida: chácaras, hotéis, motéis, etc. Há quanto tempo isso se arrasta? O Estado há muito vem falando em fazer um recadastramento para rever os erros, mas nada! A produção orgânica deveria ser levada a sério!
Outra lástima é a obra da segunda etapa do DITALPI que teve início em 2008 e foi anunciada pelo então Governador Wellington Dias (PT) que seria inaugurada no primeiro semestre de 2011. As empresas ODEBRECHT de Engenharia e Queiroz Galvão de Construção adiaram a conclusão para 2012. Outro evento midiático foi realizado com esta mesma turma e o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, onde assinaram festivamente a ordem de serviço de R$ 161 milhões, no dia 19 de junho de 2013. Desta vez a empresa Mendes Júnior como a segunda colocada que retomou o serviço, mas parou também.
A mediocridade não permite nossa representação política enxergar que, mais que um conceito, a produção orgânica é uma ferramenta de mudança que pode definir como será a qualidade de vida da sociedade nos próximos anos! Enquanto isso, encontros e festas para discutir o sexo dos anjos! Se há dificuldade em ouvir o que de fato interessa aos irrigantes, sugiro conhecer a experiência de Petrolina-Juazeiro para aprenderem como se faz, fica a dica!

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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